Al Shabaab é ameaça global, dizem especialistas

Há duas décadas a guerra civil é a normalidade na Somália. Desde que o ditador Siad Barre foi derrubado, em 1991, grupos armados regionais de todo o país lutam pelo poder, e os embates já custaram milhares de vidas. A primeira intervenção da Organização das Nações Unidas, em 1995, fracassou.

Na busca por uma vida normal, os somalis, em sua maioria muçulmanos, se voltaram para as autoridades religiosas. Tribunais islâmicos estabeleceram-se em nível local e durante um bom tempo mantiveram o direito e a ordem.

A União das Cortes Islâmicas (UCI) – aliança formada por esses tribunais da sharia, a lei tradicional islâmica – conseguiu expulsar os senhores de guerra da capital Mogadíscio, e em 2006 assumiu as atribuições governamentais.

Além disso, uma ala radical da União ameaçava ocupar a região de Ogaden, na Etiópia. O país reagiu com uma intervenção militar, apoiada pelos Estados Unidos, expulsando a UCI. No entanto, também essa segunda interferência de fora foi vista com crítica por grande parcela da população somali.

Foi nesse momento que o pequeno grupo radical Al Shabaab (A juventude, em árabe) se tornou popular, devido a sua resistência, explica Markus Höhne – que há 12 anos pesquisa a Somália para o Instituto Max Planck da cidade alemã de Halle. "O fato de esses pequenos grupos radicais isolados terem conquistado tanto prestígio tem muito a ver com o combate ao terrorismo totalmente equivocado na Somália", observa.

Recrutamento nos EUA e Alemanha

Em 2009, a tropas etíopes se retiraram, e a luta entre o Al Shabaab e o novo governo interino somali continuou. O mais tardar aí, a população teve que constatar que, longe de ser homogêneo, o grupo fundamentalista tem muitas caras.

Sua ala radical pratica atentados contra os próprios cidadãos e impõe de forma brutal sua interpretação arbitrária da sharia. "A outra parte do Al Shabaab só seguiu o grupo porque eles eram os únicos que, temporariamente, cuidavam para que houvesse ordem, leis, paz e estabilidade", explica à DW Mehari Maru, do Instituto de Estudos sobre Segurança da capital etíope Adis Abeba. "A esta altura, eles abandonaram o grupo. Mas a parte que ficou tem orientação internacional: ela se inspira e é controlada pela Al Qaeda."

A Secretaria americana de Justiça disporia de informações segundo as quais desde 2007 o Al Shabaab viria recrutando combatentes nos EUA. Em 2012, a polícia queniana também caçou um alemão com supostas ligações com o grupo militante.

"São indivíduos que pensam de forma fortemente ideológica, têm muito dinheiro e sustentam financeiramente o Al Shabaab", diz Mehari Maru. Em referência às armas, o especialista em segurança acrescenta que, por todo o Chifre da África, é possível consegui-las sem problema, bastando que se disponha do dinheiro necessário.

Mais perigosos do que nunca

Em 2011, contudo, o Al Shabaab perdeu terreno na Somália. Depois que suas milícias foram responsabilizadas pelo sequestro de estrangeiros no Quênia, o governo queniano interveio no conflito e declarou guerra ao grupo. Os terroristas reagiram com atentados nos dois países – com o recente ataque ao shopping-center Westgate em Nairóbi constituindo o ápice dessa série.

Segundo Markus Höhne, nos últimos meses estabeleceu-se uma corrente radical, para a qual os somalis são menos relevantes do que a jihad ("guerra santa" islâmica) global. "Deste modo, o Al Shabaab está longe de estar vencido, e é mais perigoso do que nunca", opina.

Mehari Maru, por sua vez, aponta um enfraquecimento do Al Shabaab: enquanto, alguns anos atrás, ele ainda controlava amplas regiões da Somália, hoje o grupo se concentra em atentados isolados, argumenta. Ao mesmo tempo, ele chama a atenção para um aspecto: a ideologia radical islâmica do Al Shabaab não conhece fronteiras nacionais, constituindo, portanto, uma ameaça global.

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