Rússia – Ombro tecnológico para a indústria brasileira

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Sergey Chemezov
CEO da ROSTEC


Hoje em dia a “diplomacia industrial” é colocada em primeiro plano como fator inalienável e de eficácia para a política externa de diversos países. Se aplicarmos este conceito nas nações da América Latina e nas relações entre Rússia e Brasil, enxergaremos muitas oportunidades, incluindo a cooperação para o desenvolvimento independente e soberano de nossas tecnologias a fim de estabelecer o direito de administrar o nosso próprio destino de forma orgulhosa e independente.

Na qualidade de embaixadora industrial, a ROSTEC, corporação estatal da Rússia que desenvolve, fabrica e exporta produtos industriais de alta tecnologia para o uso civil e militar, aposta na cooperação com os países da América Latina para criar uma nova ordem tecnológica global. Este processo garantirá a segurança econômica das nações, evitando assim a divisão da humanidade entre justos e injustos, critérios elaborados ora por princípios políticos, ora por ideológicos.

É evidente que as grandes descobertas serão provenientes de países que são caracterizados por uma competitividade estável em nível global e que destinam uma parte considerável do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e a ciência.

Por seu lado, acredito que a cooperação bilateral na área de tecnologia, tanto para uso civil como militar, pode ser o início do desenvolvimento de competências locais, no Brasil e em outros países latino-americanos, permitindo mudar o tipo de relações que a Rússia e a América do Sul tinham até então: intercâmbio de produtos agrícolas por equipamentos tecnicamente elaborados. Desde 1º de abril de 2015, a Rússia ocupou a presidência temporária do grupo BRICS.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que está decidido a incrementar a importância do bloco à nível mundial. Existe o interesse, por parte da Rússia, de criar alianças industriais conjuntas com a participação dos países da região, em especial os que já realizam o compartilhamento de propriedade intelectual industrial e que contam com investimentos em tecnologia. Tais alianças poderão aproveitar ao máximo as oportunidades de sinergias econômicas geradas na relação entre os países participantes. Este tipo de parceria é vital na intenção de estabelecer nova ordem mundial focada no desenvolvimento sustentável.

O Brasil já defende seus interesses para a colaboração e o benefício mútuo com a Rússia. Esta prática rendeu frutos, por exemplo, no memorando firmado recentemente para ampliar a colaboração nas áreas de ciência, tecnologia e inovações entre os governos do BRICS. Quero enfatizar que a Rússia, independente das sanções impostas por países do Ocidente, e em especial a Corporação Rostec, seguem colaborando com todos os parceiros internacionais, pois a cooperação tecnológica é essencial para a prosperidade econômica.

Exemplo é o caso da companhia americana Boeing, onde 40% do titânio utilizado na fabricação de aeronaves é fornecido pela holding VSMPO-AVISMA (companhia pertencente à ROSTEC). Neste caso, apesar das sanções, a empresa de aviação não revogou suas intenções de investir US$ 27 bilhões em diferentes projetos em território russo. Já a companhia General Electric e a Organização Unida para a Construção de Motores (ODK, na sigla em russo, e também pertencente à ROSTEC) inauguraram na Rússia, em outono de 2014, uma fábrica para produção, venda e manutenção de turbinas movidas a gás.

O volume de contratos da Corporação ROSTEC – apenas com os 10 principais parceiros na Europa (Daimler, Airbus Group, AgustaWestland, Renault-Nissan, Thales Group, SAGEM, Rohde & Schwarz, Rolls-Royce, Pirelli e STX Europe) – supera 16 bilhões de euros, ao mesmo tempo em que nossos aliados ocidentais estão, simultaneamente, interessados em manter os contratos atuais.

Neste sentido, a ROSTEC reitera que está disposta a oferecer seu ombro tecnológico para que as companhias e instituições brasileiras possam se apoiar e iniciar sua transição para um novo patamar tecnológico local. A corporação proporciona possibilidades não apenas para fornecer produtos de alta tecnologia, mas também para criar produções em conjunto até mesmo em território brasileiro.

A criação de novos mecanismos financeiros nos BRICS, assim como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco dos BRICS, irá colaborar no processo, fortalecendo os projetos conjuntos entre o grupo de países, elevando as competências tecnológicas e ampliando a soberania dessas nações.

Tendo em vista as oportunidades de cooperação, as áreas que concentram as maiores perspectivas de crescimento são sistemas de controle de tráfego aéreo, governo eletrônico, infraestrutura portuária; radioeletrônica; indústria biofarmacêutica; e a colaboração em projetos que necessitam de tecnologias-chaves pertencentes à ROSTEC – inclusive nas áreas de aviação, helicópteros, equipamentos médicos, sistemas de luta radioeletrônica, óptica eletrônica, motores, turbinas e até telecomunicações, em que detemos o exclusivo smartphone de duas telas, denominado YotaPhone.

O sinal de fortalecimento das relações comerciais e industriais entre Rússia e Brasil foi marcado no fim de 2014 pela última entrega de helicópteros MI-35M. É importante que tanto a Rússia como o Brasil não se limitem a este projeto. A realização da Feira LAAD – Defense & Security, ocorrida no Rio de Janeiro em abril de 2015, reativou as negociações nas áreas civil e militar. Juntos vamos fortalecer a indústria brasileira no transcorrer do século XXI.

Sobre Sergey Chemezov, CEO da ROSTEC

Sergey Chemezov é CEO da Corporação Estatal ROSTEC desde 2007 e membro da Comissão Presidencial da Rússia para a Cooperação Técnica-Militar com os Estados Estrangeiros. Antes da formação do conglomerado, o executivo liderou grandes empresas, tal como Rosoboronexport, exportadora exclusiva de produtos militares da Rússia.
 
Sobre a ROSTEC

A Corporação ROSTEC foi fundada em 2007 para apoiar a pesquisa, o desenvolvimento, a fabricação e a exportação de produtos industriais de alta tecnologia para o uso civil e militar. É um conglomerado estatal da Federação da Rússia que detém aproximadamente 700 empresas, incluindo nove holdings que formam o complexo militar-industrial e cinco grupos empresariais que atuam na indústria civil.

Conta ainda com o controle direto de 22 companhias e marcas de renome mundial em seu portfólio, como a AVTOVAZ, KAMAZ, Helicópteros da Rússia e VSMPO-AVISMA, entre outras. A companhia está presente em 60 entidades constituintes da Rússia e exporta sua produção para mais de 70 nações. A receita da ROSTEC em 2013 foi superior a 1,4 trilhão de rublos.

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