Áudio dos pilotos do AF 447 jamais será divulgado

As caixas-pretas do voo 447 da Air France no qual morreram as 228 pessoas a bordo do Airbus chegaram a Paris trazidas por um Airbus A340 do voo 3507 da Air France vindo de Caiena. Os gravadores dos 1 300 parâmetros da aeronave e o áudio na cabine de pilotagem antes do acidente foram apresentados como “celebridades” à imprensa – 15 minutos só para registrar imagens – na sede do Escritório de Investigações e de Análises (BEA) da Aviação Civil da França, órgão responsável pela apuração das causas do acidente.

O diretor do BEA, Jean-Paul Troadec, estima que serão necessários, no mínimo, três dias de um processo preparatório até ate que se verifique de fato se os dados e o áudio estão em condições de ser explorados. Se for o caso, o conteúdo – só partes que os investigadores franceses julgarem pertinentes – será conhecido publicamente em janeiro de 2012, data prevista para a publicação dos resultados da investigação técnica e administrativa. O BEA afirma que se o áudio com a vozes dos pilotos – 30 minutos antes do acidente – estiver preservado, ele jamais será divulgado oficialmente para o público, segundo determina a Convenção de Chicago.

Os trabalhos para a tentativa de leitura das duas caixas-pretas começam hoje.

Retiradas dos aquários de água destilada, as caixas-pretas serão abertas para extração dos cartões de memória – semelhantes as de aparelhos fotográficos digitais – que contém os registros. A operação deve durar uma hora. Em seguida, os cartões passarão por um processo de limpeza – 12 horas de profilaxia minuciosa para remoção de resíduos e partículas estranhas na superfície do microchip. Depois vem a secagem de, no mínimo, mais meio dia.

O estágio seguinte, durante um dia inteiro, consiste na observação visual com ajuda de microscópios e realização de testes elétricos. O momento crucial, a tentativa de leitura dos registros acontecerá em uma sala envidraçada no subsolo do BEA. “Apenas um técnico do BEA e um oficial da Polícia Judiciária estarão presente fisicamente no laboratório, a operação será gravada por câmera de vídeo” disse ao Blog de Paris, Christophe Menez, chefe do departamento técnico do BEA.

O coronel aviador da FAB, Luís Cláudio Lupoli, designado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) como o “representante credenciado” junto as investigações disse ao Blog de Paris, que irá acompanhar a operação do lado de fora da sala, observando através das janelas de vidro. Um representante da Honeywell, fabricante das caixas-pretas, também irá acompanhar a tentativa de decodificação dos registros que será narrada pelo técnico do BEA e que pode levar de uma hora a um dia.

O CENIPA enviou também a França o major Sidney da Silva, mas ele não está credenciado como participante da investigação. O BEA informou que o major brasileiro está em Paris para observar o funcionamento geral do escritório na perspectiva de um eventual acordo de intercâmbio técnico entre Brasil e França. O CENIPA quer entrar no restrito clube dos cinco órgãos de prevenção e investigação de acidentes aéreos capaz de ler as informações das caixas pretas – o CVR (Cockpit Voice Recorder), que contém o áudio das conversas dos pilotos, e o FDR (Flight Data Recorder), que registra os dados técnicos do voo.

Se os registros estiverem preservados, eles permanecerão nos cartões de memória. O BEA trabalhará com cópias para as análises. A operação de resgate das outras peças do avião a 3 900 metros de profundidade no Atlântico e a 1 100 quilômetros nordeste de Recife encerram amanhã, 13 de maio.

A fotografia abaixo mostra o campo de destroços do A330 no fundo do Atlântico. Os nomes em grafados em cor vermelha são das peças já retiradas e os em cor azul que serão retrados no último dia da operação, 13 de maio de 2011:

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