Autoridades americanas exigem plano corretivo para Boeing Dreamliner

Autoridades e companhias aéreas completaram ontem uma suspensão global de voos dos aviões 787 Dreamliner, fabricados pela americana Boeing Co., depois de uma diretiva da agência de aviação dos Estados Unidos, a FAA, em resposta a incidentes envolvendo problemas de baterias do modelo mais proeminente da companhia.

A Agência Europeia de Segurança na Aviação, assim como outras autoridades da aviação civil ao redor do mundo, seguiram as instruções da FAA, porque a agência americana supervisiona a Boeing e certificou o Dreamliner. A Ethiopian Airlines e a Qatar Airways também suspenderam voos de seus 787s, depois de decisões similares no Japão, Chile, Polônia e Índia na quarta-feira.

"Não há nenhum Boeing 787 voando em nenhum lugar do mundo no momento", disse ontem Dominique Fouda, porta-voz da agência europeia de segurança aérea.

É a primeira vez em quarenta anos que autoridades americanas tomam uma decisão tão drástica. A FAA exigiu que a Boeing e seus clientes "desenvolvam um plano de ação corretiva".

As ordens da agência europeia afetam dois aviões operados pela LOT Polish Airlines SA, segundo a autoridade. A agência polonesa de aviação civil tomou medida similar antes.

Nos EUA, os voos podem ser retomados nos próximos dias, segundo pessoas a par da questão. Isso poderia acontecer, previram elas, se a FAA aprovar rapidamente várias melhorias provisórias de segurança que a Boeing traçou.

O diretor-presidente da Boeing, Jim McNerney, que discutiu o assunto com autoridades da FAA antes do anúncio, disse que a companhia "está comprometida em apoiar a FAA e encontrar respostas o mais rápido possível".

McNerney acrescentou que a Boeing está trabalhando "constantemente com os clientes e as diversas autoridades regulatórias e de investigação".

O comunicado da Boeing também disse que "estamos certos de que o 787 é seguro e avalizamos sua integridade de modo geral". A fabricante, sediada em Chicago, acrescentou que "lamenta profundamente o impacto" sobre companhias aéreas e passageiros.

A ordem de emergência da FAA foi emitida depois que um 787 da All Nippon Airways Co. no Japão foi forçado a fazer um pouso de emergência e evacuação. Alarmes internos da aeronave indicaram superaquecimento da principal bateria do avião que causou um cheiro de queimado na cabine, mas aparentemente não gerou fumaça. Os computadores do jato alertaram sobre um problema na bateria antes da decolagem, segundo pessoas familiarizadas com os detalhes, mas o alerta foi exibido numa parte do sistema de dados da cabine de comando que os pilotos não checam rotineiramente logo antes da partida.

Autoridades japonesas de segurança aérea começaram sua investigação do incidente ontem e disseram que por dentro a bateria parecia estar queimada. "Parecia carvão", disse Hideyo Kosugi, um dos cinco investigadores da agência japonesa de segurança no transporte despachados para o local da aterrissagem.

A FAA afirmou que, antes de novos voos, a Boeing precisa demonstrar à agência que as avançadas baterias de íon de lítio do 787 são seguras. Funcionários da FAA disseram que iriam trabalhar com a fabricante e companhias aéreas para permitir voos "o mais rápido possível", mas a agência também afirmou que ainda está tentando determinar as causas de dois incêndios recentes de baterias.

Autoridades americanas provavelmente abriram caminho para meses de debate sobre a necessidade de mudanças maiores no projeto do 787. O anúncio de quarta-feira, que chocou a indústria aeroespacial, chegou sem que a FAA ou a Boeing divulgassem planos claros para o que precisa ser feito a fim de restaurar a confiança do público na frota dos Dreamliners.

A ordem da FAA se aplica só a 787s operados pela United Airlines, subsidiária da United Continental Holdings Inc., atualmente a única operadora americana do modelo.

A United informou que iria obedecer imediatamente a ordem da FAA e cooperar com a agência e com a Boeing "para restaurar o serviço do 787". Ela disse que iria colocar outras aeronaves nas rotas que hoje usam o 787.

Tanto a ANA quanto a JAL — as primeiras clientes do 787 — suspenderam os voos de seus Dreamliners depois do incidente de quarta-feira por pelo menos dois dias. Além delas e da United, a LAN Airlines, do grupo chileno Latam Airlines Group, suspendeu a operação de seus três Dreamliners. A LOT Polish, cujo voo inaugural de 787 de Varsóvia para Chicago estava no ar quando a decisão foi anunciada, cancelou o voo de volta para a Polônia.

A Air India, com seis 787s, também informou que suspendeu sua frota.

A LAN tem 29 Dreamliners encomendados, além dos três já entregues e que foram suspensos, segundo a Boeing. Além dela, na América Latina, só mais duas companhias têm pedidos do jato: o Grupo Aeroméxico, que pediu 19 unidades, e a Avianca, da Colômbia, que pediu 15, de acordo com comunicados da Boeing.

A Aeroméxico informou, num comunicado, que mantém sua confiança nos 787. A Avianca respondeu, por um porta-voz, que só espera receber Dreamliners em 2014 e que a atual situação não afeta seus planos. A LAN não respondeu em tempo a pedidos de comentários sobre suas encomendas pendentes do modelo.

A Boeing já havia proposto para autoridades americanas e japonesas algumas mudanças operacionais temporárias, melhora na verificação de segurança das baterias e inspeções frequentes, como forma de trazer os jatos logo de volta para o ar, segundo pessoas do setor e de governos. A FAA está estudando essas sugestões.

A última vez em que a FAA emitiu esse tipo de ordem suspendendo voos de um modelo de avião foi quando um DC-10 perdeu uma turbina e caiu em 1979, embora ela tenha exigido uma inspeção de emergência de outros modelos desde então. Antes do anúncio de quarta-feira, autoridades americanas haviam dito que não achavam que recentes defeitos do 787 traziam um risco de segurança imediato.

(Colaboraram Daniel Michaels, Friedrich Geiger, Alex Delmar-Morgan, Doug Cameron, Claudia Sandoval-Gómez e Yoshio Takahashi.)

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