Veículo Aéreo Não Tripulado “Made in Brazil”

Roberto Caiafa, correspondente Defesanet


Após o término da LAAD 2011 (Latin America Aero and Defence), maior evento do segmento de defesa e segurança pública sul-americano, realizado no Rio em abril, os Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) confirmaram as previsões do mercado, e tornaram-se assim as vedetes de alta tecnologia da atualidade, especialmente com as responsabilidades assumidas pelo Brasil na organização de uma Copa do Mundo FIFA de Futebol em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016.

Em que pese uma massiva oferta de VANT estrangeiros no mercado, a indústria nacional não ficou parada. Trilhando o mesmo caminho dos israelenses, algumas empresas brasileiras obtiveram sucessos expressivos no projeto, desenvolvimento e introdução em serviço de diversos tipos de aparelhos VANT dotados de sensores e equipamentos desenvolvidos localmente com financiamento federal (FINEP), em estreita cooperação da indústria, com centros de pesquisa universitários, pólos de tecnologia e empresas contratadas, além de alguns tipos mais simples produzidos pelas Forças Armadas para emprego como alvos aéreos ou rebocadores de alvos, dentre outras tarefas.

VANTs não se comparam a aeromodelos, são conceitos similares com requisitos de emprego bem distintos. Nada mais natural que se aproveitar os conhecimentos de pilotagem de aeromodelistas experientes durante os custosos ensaios de desenvolvimento de novos veículos aéreos não tripulados. Israelenses e americanos já percorrem este caminho há mais de duas décadas com resultados excepcionais, inclusive no emprego operacional. No Brasil, a FAM Aeromodelismo (Franca, SP), e o piloto Fábio Borges, um dos melhores do ranking brasileiro, repetem esta fórmula de sucesso junto a Marinha do Brasil e a empresa Orbisat, recentemente adquirida pela gigante EMBRAER Defesa e Segurança.

O alvo aéreo Harpia, operado pelo CASOP (Centro de Apoio aos Sistemas Operativos da Marinha) é uma aeronave rádio-controlada lançada desde uma catapulta e movida por um motor a pistão. O Harpia é um aparelho de baixo custo e apresenta uma envergadura de asa de cerca de três metros. Dotado de dispensadores de flares na ponta das asas, serve para o treinamento de artilharia antiaérea da Marinha do Brasil, especialmente quando é empregado o míssil MANPADS Mistral, guiado até o alvo por irradiação de calor. Fábio Borges e a FAM atuaram no aperfeiçoamento das qualidades de vôo do modelo, especialmente na fase após o lançamento via catapulta, e na melhoria do envelope geral de vôo do Harpia, até então considerado um tipo “duro” de pilotar e sujeito a falhas. Foram construídas três unidades do “novo” Harpia, e a entrega oficial deverá ocorrer até meados de agosto.

Segundo Fábio Borges “O tipo foi projetado tanto para ser decolado de um porta aviões, como lançado por uma catapulta, e tem autonomia de vôo para mais de uma hora. Está equipado com motor de 110cc e hélice especialmente desenvolvida para o modelo, podendo voar a uma velocidade de cruzeiro de 190 km/h. Um pára-quedas balístico permite a recuperação do novo Harpia, em caso de necessidade.”

No caso da Orbisat e seu Programa SARVANT, o trabalho da FAM Aeromodelismo esteve direcionado na busca da total confiabilidade da célula motriz e sua perfeita integração ao resto da fuselagem do VANT, do tipo proposto para realizar mapeamento terrestre, patrulhamento de fronteiras (capaz de ver através da copa das árvores), controle de plantações e grandes propriedades rurais, etc. Neste projeto, a empresa brasileira AGX é a responsável pelos sistemas de posicionamento via GPS, que incluem software e hardware. Com capacidade de 40 horas de voo e 70 quilos de carga útil, a nova aeronave vai transportar um sensor SAR (“Synthetic Aperture Radar”) da Orbisat, um radar capaz de oferecer mapeamento nas bandas P e X em áreas de até 500 quilômetros quadrados.

A empresa obteve uma subvenção da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), tanto para o radar como também para o projeto e construção do VANT pelas empresas AGX e Aeroalcool. A FAM foi contratada como prestadora de serviço, visando à finalização do projeto e a sua transição segura para a funcionalidade na prática (homologação). O projeto, após quatro anos de pesquisa, deverá entrar em operação em 2012, O Programa SARVANT teve um investimento total de seis milhões de reais, contando com mais de 30 engenheiros e 10 técnicos envolvidos no seu desenvolvimento.

Para Fábio Borges “Participar deste tipo de contrato é muito estimulante, é um novo campo de atuação que se abre. Como aeromodelista profissional, é motivador tomar parte de algo tão importante para o desenvolvimento tecnológico e para a segurança do país”, finaliza o piloto da FAM Aeromodelismo.

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