Embraer tem mais aviões na China do que no Brasil

Marcela Ayres

A Embraer colocou o pé na China há 12 anos. De lá para cá, a companhia passou por altos e baixos: teve importações bloqueadas e chegou a desativar sua fábrica. Mas a empresa conseguiu vender cerca de 160 aviões, dos quais 130 encontram-se em operação. "Temos mais aviões voando na China que no Brasil", resumiu Frederico Fleury Curado, diretor-presidente da companhia, ao falar sobre a evolução dos negócios no país. "Nossas aeronaves fazem aproximadamente 400 rotas entre cidades na China", completou.

Durante a Conferência Brasil-China realizada nesta tarde, em São Paulo, o executivo afirmou que o mercado chinês representa de  5% a 10% dos negócios da empresa. Em 2000, a Embraer inaugurou um escritório de representação em Pequim. Em 2002, foi a vez de a companhia abrir uma fábrica em Harbin, norte do país asiático, em uma joint-venture com a Avic (Aviation Industries of China). 

De acordo com Curado, a percepção de que a China é um destino longínquo já ficou para trás. "Quem está do outro lado do mundo somos nós: dois terços da população mundial estão hoje na Ásia", disse.

Mas ele reconheceu que o caminho para se firmar no país é árduo. "Não existe o negócio da China, uma panaceia onde todas as oportunidades são de fácil acesso para quem chegar primeiro", afirmou. "Quem quiser ter sucesso na China tem que ter calma, persistência e paciência."

Como se sabe, a Embraer chegou a considerar o fechamento da sua fábrica na China em 2010 em função dos planos do governo de construir aviões próprios, que competiriam diretamente com sua frota. A unidade havia sido erguida oito anos antes para tocar a produção do avião comercial ERJ 145.

Com a crise global, o governo chinês passou a estimular as companhias aéreas a priorizarem a compra de aviões fabricados no país. Os planos da Embraer de exportar o EMB 190, de origem brasileira, também foram por água abaixo: a China negou as licenças de importação necessárias para a operação.

A fábrica foi reativada em junho deste ano, após a companhia brasileira conseguir uma autorização do governo local para a produção dos jatos executivos Legacy 600/650. Mas não sem uma ajuda diplomática. Em visita a Pequim no ano passado, a presidente Dilma Rousseff colocou o assunto em pauta em encontro com autoridades chinesas.

Para Curado, a mudança no foco da Embraer é reflexo da realidade empresarial chinesa – e é preciso estar preparado para isso para permanecer no país. "Você começa jogando basquete, no meio do jogo vira futebol, você passa a jogar bem e dali a pouco já é vôlei", brincou. 

O executivo pontuou que em um curto espaço de tempo, a China decidiu se tornar um player mundial no mercado de aviação, competindo com titãs do porte da Airbus e Boing, ao invés de ser apenas uma fabricante secundária. "As coisas na China mudam com certa rapidez, dentro de uma visão planejada. Nesse aspecto, tivemos que redirecionar nossa estratégia", resumiu.

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