Estudo mostra que obras previstas não são suficientes para a demanda dos aeroportos da Copa

A maioria dos 16 aeroportos instalados nas 12 cidades do Brasil que receberão os jogos da Copa do Mundo em 2014 não tem infraestrutura suficiente para atender ao aumento crescente da demanda, que poderá dobrar nos próximos sete anos. Estudo coordenado pelo professor Elton Fernandes, do Programa de Engenharia de Produção da Coppe, avaliou a situação até 2016 e concluiu que a maior parte dos terminais de passageiros já está com sua capacidade esgotada e que as obras de ampliação previstas pela Infraero não mudarão esse quadro. As exceções são os aeroportos do Galeão (RJ) e de Brasília, Fortaleza e Manaus.

Baseando-se em padrões internacionais, que pedem um mínimo de 23 metros quadrados por passageiro doméstico no horário de pico e mais 14 metros quadrados por passageiros internacionais, o estudo concluiu que, após as obras, ainda haverá uma carência total de 366 mil metros quadrados para atender à demanda de 2014. Isso independe da movimentação adicional causada pela Copa do Mundo, que poderá chegar a 3 milhões de passageiros no total. O problema não está nesse número, e sim no fato de que, antes do evento, os aeroportos já estarão operando no limite.

A demanda total de passageiros calculada pela Coppe é maior que a prevista pela Infraero no planejamento das obras de expansão. O professor Elton Fernandes prevê que, nos 16 aeroportos, o número anual de passageiros salte dos 127,72 milhões registrados em 2010 para 187,48 milhões em 2014. Esse acréscimo de quase 60 milhões  mais do que o dobro do movimento total atual dos aeroportos da Argentina, por exemplo  é bem superior ao número levado em conta no planejamento das obras de expansão dos terminais. Segundo Elton, os aeroportos que deverão ter a maior taxa de crescimento são Viracopos (Campinas-SP), com 91%, e o Galeão, com 73%.

Apesar de ser um dos campeões de crescimento, o terminal do Galeão é, do ponto de vista da área disponível, o único que terá espaço mais do que suficiente para suportar a demanda prevista: terá uma folga de 106 mil metros quadrados em 2014. De acordo com o estudo, o aeroporto carioca, que em 2010 recebeu 12,23 milhões de passageiros, deverá receber 21,15 milhões em 2014 e 25,12 milhões em 2016. O terminal tem hoje disponível 180 mil metros quadrados. Em 2014, após a obra de expansão, terá 280 mil metros quadrados. Elton diz que, após a ampliação, os pátios, que hoje podem receber35 aeronaves, provavelmente terão condições de abrigar mais do que as 47 previstas no estudo. A conta inclui os aviões Airbus A380, que poderão passarão a pousar no aeroporto após o alargamento da pista, incluído nas obras de ampliação. Os aeroportos de Brasília, Fortaleza e Manaus também conseguirão atender à demanda calculada no estudo da Coppe, mas com menos folga que o Galeão.

Já Viracopos, que tem hoje capacidade para 3,5 milhões de passageiros, está em situação delicada, de acordo com o professor. Como consequência da falta de planejamento do setor aeroportuário brasileiro, o aeroporto de Campinas registrou em apenas dois anos  2008 a 2010  a maior taxa mundial de crescimento de passageiros, e já não está mais suportando o movimento, que continua a crescer. O total de embarques e desembarques em Viracopos saltou de 1,08 milhão em 2008 para 5,02 milhões em 2010, um aumento de 364%.  Como nenhuma ampliação foi feita até agora, já faltam hoje 10,8 mil metros quadrados nos terminais de passageiros de Viracopos. Em 2014, mesmo com a ampliação dos atuais 25 mil metros quadrados para 58,5 mil, os transtornos e desconfortos continuarão , avalia o professor.

Elton explica que o aumento em Campinas foi provocado pela situação crítica dos aeroportos de Congonhas e de Guarulhos. Este último, já no ano passado, operava acima da sua capacidade, recebendo 67 aeronaves, seis a mais do que a capacidade definida pelo DECEA. A situação do aeroporto paulista tem reflexos em vários aeroportos brasileiros, onde aeronaves com destino a São Paulo ficam estacionadas nos pátios, aguardando a liberação do controle de tráfego. Enquanto isso, outros aviões não têm como pousar. Esse congestionamento gera muitos atrasos nos voos.

Problemas na Copa

O número de passageiros em função da Copa do Mundo, que pode chegar a 3 milhões, não deveria ser um grande problema para os aeroportos brasileiros, pois muitas outras pessoas que viajariam a negócios no mesmo período provavelmente remanejarão suas agendas devido aos jogos. Mas o professor da Coppe acredita que haverá transtornos porque boa parte das obras planejadas não evitará que os terminais operem no limite já muito antes daquele evento esportivo.  Quando um copo está quase transbordando, qualquer gotinha a mais causa problemas , lembra Elton.

A Federal Aviation Administration (FAA), nos Estados Unidos, recomenda que os terminais norte-americanos tenham no mínimo 23 metros quadrados disponíveis para cada passageiro doméstico no horário de pico e 14 metros quadrados adicionais para os internacionais.  A média internacional, que levantamos em 114 aeroportos, é de 29,98 metros quadrados por passageiro na hora-pico, enquanto, no Brasil, a maioria está abaixo de 23 metros quadrados. E essa situação não irá melhorar com as obras previstas pela Infraero , afirma o professor.

Para ilustrar o desempenho do setor no Brasil, Elton comparou o que foi planejado para Guarulhos até 2014 com a evolução dos aeroportos de Barcelona (Espanha) e Charlotte (Estados Unidos), num período de cinco anos. Em 2010, com um terminal de 160 mil metros quadrados, Guarulhos recebeu quase 27 milhões de passageiros. É uma quantidade próxima ao do número de passageiros que, em 2005, embarcaram e desembarcaram nos 125 mil metros quadrados de Barcelona e nos 158 mil metros quadrados de Charlotte. Em 2009, Barcelona já contava com 544 mil metros quadrados e Charlotte tinha 518 mil. Já Guarulhos, somente agora tem projetada uma ampliação para apenas 250 mil metros quadrados  em 2014 – área que o professor considera insuficiente para receber os 37 milhões de passageiros que o estudo da Coppe prevê para 2014. Para dar conta dessa demanda, o terminal de passageiros de Guarulhos deveria ser ampliado para pelo menos 320 mil metros quadrados, diz Elton.

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