Bombardier aposta em desempenho melhor para reviver o CSeries


A Bombardier apresentou especificações de desempenho melhores do que o esperado para a sua nova linha de jatos CSeries na feira de aviação de Paris, no que pode ser a melhor oportunidade para a fabricante canadense de dar impulso às encomendas para o seu novo avião principal.

Os modelos CSeries, que têm entre 100 e 160 lugares, vão competir com os da Embraer e com aviões menores, de um corredor, fabricados pela Airbus Group SE e pela Boeing Co.

A Bombardier, que vem tendo dificuldades para manter o desenvolvimento do CSeries dentro do cronograma, anunciou ontem, durante a chamada Paris Air Show, que o jato será capaz de decolar com uma carga quase 2.300 quilos maior que a especificação inicial, segundo pessoas a par do projeto.

Isso significa que a aeronave pode transportar mais carga geradora de receita ou aumentar o volume de combustível para voar uma distância entre 370 e 650 quilômetros maior do que os pouco mais de 5.460 quilômetros estimados originalmente.

O novo jato pesa mais do que o inicialmente planejado, o que é comum para um modelo novo, mas será pelo menos 1,5% mais econômico do que o previsto, dizem duas pessoas a par do desempenho do avião. Mesmo com a queda dos preços do petróleo, as companhias aéreas prezam cada gota de combustível economizada. A capacidade de viajar uma distância maior também proporciona mais flexibilidade para a abertura de novas rotas ou a redução do volume de combustível em favor de cargas geradoras de receita.

Os testes de voo positivos devem dar ao novo diretor-presidente da Bombardier, Alain Bellemare, uma oportunidade de convencer os céticos do setor e as companhias aéreas que o CSeries, cujo projeto sofreu grandes atrasos, é um concorrente à altura dos aviões de passageiros da Airbus e da Boeing, dizem analistas e clientes.

Bellemare, um ex-executivo do conglomerado United Technologies Corp. que assumiu o comando da Bombardier em fevereiro — no lugar de Pierre Beaudoin, herdeiro da família que controla a empresa —, está diante dos maiores desafios enfrentados hoje por uma fabricante estabelecida de aviões civis.

Embora o CSeries esteja abrindo um nova fronteira, a Bombardier há muito tempo é uma grande fabricante de jatos comerciais e regionais.

A empresa também produz equipamentos para a indústria ferroviária, e os custos crescentes do projeto CSeries estão levando a companhia a vender uma participação minoritária na sua divisão de transportes por meio de uma oferta pública inicial de ações. Muitos analistas e executivos do setor questionam se o CSeries — que já estourou o orçamento em US$ 2 bilhões e está dois anos e meio atrás do cronograma — pode gerar retorno sobre o investimento. A cotação das ações da empresa já despencou quase 40% no acumulado do ano.

A Bombardier já registrou 243 pedidos para os jatos CSeries, obtendo a maioria das vendas de jatos menores de um corredor equipados com 100 a 150 assentos. Já no segmento de aviões de um corredor com uma capacidade maior, a Airbus e a Boeing usaram sua escala industrial e custos de desenvolvimento mais baixos para manter a Bombardier de fora de muitas concorrências e garantir encomendas de mais de 6,6 mil jatos mais modernos, os quais estão sendo desenvolvidos.

A Bombardier, que é sediada em Montreal, não quis dar detalhes sobre o desempenho dos jatos CSeries, mas afirmou que vai superar as expectativas.

O evento de Paris vai proporcionar um novo começo para o projeto e a nova liderança da empresa, diz Nico Buchholz, vice-presidente executivo de gerenciamento de frotas e diretor de compras de aeronaves da Deutsche Lufthansa AG, que tem motivos para torcer pelo CSeries. A companhia aérea alemã é dona da Swiss International Air Lines, que fez a primeira encomenda da nova família de jatos.

Promover o CSeries tão longe de casa mostra confiança no avião, diz Buchholz, que há muito vem pedindo uma mudança na estratégia de vendas. “Isso não é [uma apresentação de] Power Point, mas 3D de verdade.”

Fazer o projeto dar lucro é a maior preocupação de Bellemare, mas ele também está conciliando isso com o desenvolvimento de outros dois jatos de alcance global.

O futuro da linha Global de jatos comerciais da Bombardier, que mais contribui para a receita da área aeroespacial da companhia, é incerto. A demanda nos outrora aquecidos mercados emergentes esfriou, forçando cortes na produção e a eliminação de 1.750 postos de trabalho. O recuo ameaça agravar o aperto no caixa da empresa, num momento em que ela está às voltas com indefinições no cronograma de dois modelos de maior porte, chamados Global 7000 e 8000.

Numa entrevista concedida na semana passada ao The Wall Street Journal, Bellemare disse que “está dando início a um processo de transformação” para reduzir os custos da empresa e gerar receita em todas as áreas, mas não quis dar mais detalhes.

O alto custo da produção inicial em série do CSeries vai pesar no fluxo de caixa da Bombardier, disse Bellemare. Ele estimou que o novo avião só deve poder contribuir positivamente para os lucros a partir de 2020.

Para fortalecer as vendas, a nova liderança da empresa alterou sua estratégia de buscar um variado grupo de companhias aéreas em favor de um foco em grandes compradores estabelecidos.

A Bombardier não vai “correr atrás de cada companhia aérea que queira comprar aviões”, diz Henri Courpron, ex-executivo do setor de leasing que atua como consultor estratégico para a empresa canadense. “Você quer escolher a empresa certa, que vai passar uma mensagem de aprovação para o mercado.”

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