A última decolagem

Jornal de Brasília

O momento é o da despedida -os guerreiros dizem adeus às máquinas de combate na base de Anápolis (GO). São os pilotos dos 12 caças Mirage 2000C/B, do 1º Esquadrão de Defesa Aérea. A eles, cabe garantir a segurança de Brasília. E, de quebra, também de determinados pontos estratégicos em regiões vizinhas. 
 
 A frota de caças, nesse momento limitada a seis supersônicos – os outros servem de banco de peças e ficam na reserva -, está sendo desativada. A princípio, o último voo está previsto para a noite do dia 31, isso se uma aeronave não identificada invadir o limite do espaço aéreo do centro do poder. Não se sabe quem fará a saída derradeira. Depende da escala de serviço. 
 
O perfil desse homem é, todavia, o padrão da elite dos combatentes, reunida no grupo: o aviador do voo final tem entre 27 e 37 anos e forma física para suportar as pressões superiores a 9 vezes a da força da gravidade. 
 
Caças Suecos 
 
A melancólica aposentadoria do interceptador Mirage 2000, preso ao chão sem sucessor nos mesmos níveis de velocidade e poder de fogo, é a pior consequência da longa espera – pouco menos de 20 anos – pela escolha de um novo caça de múltiplo emprego e alta tecnologia para os esquadrões de caça da FAB. O procedimento terminou na semana passada. 
 
A vencedora foi a sueca Saab, com o caça Gripen NG, ainda em desenvolvimento. O contrato vale US$ 4,5 bilhões. Não muda a dificuldade imediata de operação. O Ministério da Defesa negocia o leasing, uma espécie de arrendamento de cerca de 12 jatos Gripen usados, modelo JAS-39. É uma geração anterior à do NG, para suprir a demanda enquanto a encomenda não for entregue, a partir de 2018 ou, talvez, um ano antes. Até lá, o quadro do 1.º Grupo, em Anápolis, será reduzido a apenas seis pilotos – hoje são cerca de 35. A missão de defesa passa para os caças F-5M, configurações modernizadas do americano F-5E Tiger II, construído há 35 anos. 
 
É o caça mais importante da FAB, que opera 46 deles e espera a incorporação de outros 11, comprados usados na Jordânia para serem revitalizados pela Embraer Defesa e Segurança, na fábrica de Gavião Peixoto, a 300 quilômetros de São Paulo. Um contrato total de US$ 470 milhões. 
 
Os supersônicos de ataque serão deslocados alternadamente das bases da FAB em Santa Cruz, no Rio, de Manaus. no Amazonas. e Canoas, no Rio Grande do Sul. Sua única tarefa é a guarda de Brasília. 
 
Dura rotina na Base de Anápolis 
 
A rotina do 1º Esquadrão de Defesa Aérea de Anápolis é dura. Quase sempre a interceptação é um exercício, fora do alcance visual do alvo, e feita, até agora, por um poderoso Mirage-2000C, armado com canhões de 30 milímetros, mais dois mísseis Super-530 de 275 quilos, 3,80 metros – levando 45 quilos só de carga explosiva. 
 
Nessa situação, o piloto dispara pela pista de 3,5 mil metros a bordo de um dos caças cinzentos de US$ 6 milhões – comprados na França em 2005, usados e revisados, a um custo total de US$ 80 milhões. O acionamento faz parte da rotina do Grupo de Defesa Aérea (GDA) desde 1973, quando a unidade ainda se chamava 1ª Alada e operava o Mirage IIIE/Br – desativado 33 anos mais tarde, em 2005, também na noite de 31 de dezembro. 
 
O caçador a bordo do supersônico só recebe os dados da missão quando já está no ar, motores trovejando sobre o planalto goiano. Localizado e identificado o "ilícito" – quase sempre um jato executivo ou avião privado -, o oficial retorna à base em 20 minutos. Demora outro tanto para voltar ao hangar, já preparado para sair outra vez.
 
Os abrigos do alerta ficam próximos da pista, para permitir decolagem em 5 minutos, e suficientemente distantes para escapar das bombas de um eventual ataque contra as aeronaves em terra. A missão é sempre de urgência, a partir do dia 31 sem os bravos Mirage. 

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