Airbus investe no A350 para tirar liderança da Boeing

Andrew Parker

A Airbus prometeu ontem reduzir a liderança da Boeing no lucrativo mercado de transporte de passageiros de longa distância, com seu novo modelo A350, mas também admitiu que precisa redobrar seus esforços para vender o superjumbo A380.

Fabrice Brégier, diretor-presidente da Airbus, insistiu que o A350, que poderá fazer seu primeiro teste de voo já na semana que vem, permitirá à companhia encostar na Boeing no mercado de aviões bimotores de grande porte. Ele admitiu que a Airbus precisa melhorar o A380, que tem problemas para despertar o interesse das companhias aéreas por causa da recessão e da descoberta de rachaduras nas asas.

Os comentários de Brégier reforçam uma batalha entre a Airbus e a Boeing envolvendo os jatos de passageiros de corredores duplos, que geralmente proporcionam margens de lucro maiores que os aviões de cabine estreita.

Baseada em seus pedidos pendentes, a Boeing tem uma liderança sólida em relação a Airbus no mercado de aviões grandes de corredores duplos, por causa da forte demanda das companhias aéreas pelo jatos 777 e 787 Dreamliner. "Mas estamos alcançando [a Boeing] com o A350", disse Brégier. "Nosso trabalho é chegar ainda mais perto."

A Airbus, do grupo EADS, quer evitar com o A350 uma repetição dos estouros de orçamento e atrasos que afetaram o A380, e grande parte disso vai depender dos testes de voo que se aproximam.

Assim como o Dreamliner, o A350 é fabricado principalmente com plástico reforçado por fibras leves de carbono, para reduzir o consumo de combustível. Mas este abandono das tradicionais ligas de alumínio explica em parte por que o novo avião é hoje o maior risco individual de desenvolvimento da Airbus. O Dreamliner, que entrou em serviço em 2011, com três anos de atraso, foi temporariamente impedido de voar em janeiro por causa de problemas com as baterias de íons de lítio em dois 787.

O A350-900, versão inicial do jato da Airbus que vai competir com o Dreamliner, deverá começar suas operações comerciais no segundo semestre de 2014. Isso representa um atraso de 18 meses em comparação ao cronograma original. O A350-1000 – uma versão maior que vai concorrer com o 777 – deverá entrar em serviço em 2017, e este modelo está começando a cair no gosto das companhias aéreas, inclusive a British Airways.

Brégier disse que o A350-1000 vai consumir 25% menos combustível que o popular 777-300ER, acrescentando que isso pode explicar por que a Boeing está agora considerando um aperfeiçoamento do grande jato, num projeto chamado 777X. "A Boeing chegará tarde [ao mercado com o 777X] e isso é uma resposta ao sucesso do A350-1000", disse ele.

"Portanto, quem está liderando o segmento de longa distância? Acho que alguém disse que não temos coragem ou vontade de lançar um avião totalmente novo. Este [o A350] é um avião totalmente novo, e não o 777X, que é uma derivação de uma plataforma já existente."

Brégier disse que a Airbus "não está no modo de pânico" em relação ao A380, que ainda não recebeu encomendas este ano. Desde o ano passado a Airbus vem resolvendo problemas de rachaduras nas asas de A380s já em serviço, e agora está preparando uma mudança de componentes que deverá evitar a ocorrência do problema nos novos superjumbos.

A Airbus tem uma vantagem sobre a Boeing no mercado de aviões de cabine estreita, com base em sua carteira de encomendas, que se deve em parte à forte demanda pelo A320neo, um aprimoramento do avião europeu de cabine estreita que apresenta turbinas que consomem menos combustível.

No momento, 42 aviões A320 estão sendo produzidos por mês e este número poderá aumentar para 50 até o fim da década, após a planejada entrada em serviço do A320neo em 2015.

Mas Tom Willians, diretor a maioria dos programas de aeronaves da Airbus, emitiu um sinal de cautela sobre o aumento da produção, afirmando que a montagem dos jatos de corredor único sofreu temporariamente uma "crise" no segundo semestre do ano passado, por causa de problemas com fornecedores.

Didier Evrard, diretor do programa do A350 da Airbus, também demonstrou preocupação com a cadeia de fornecimento. A Airbus pretende estar fabricando 10 unidades do A350 por mês até 2018 e a companhia vem tentando reduzir os riscos em várias frentes, inclusive com a troca das baterias de íons de lítio pelas tradicionais de níquel-cádmio no primeiro avião comercial. Evrard observou: "O A350 continua sendo um programa muito desafiador e nada está garantido até agora".

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