Mensagem de Despedida do Brig Aprígio

Mensagem alusiva à Cerimônia de Transmissão do Cargo de
Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica e de
Despedida do Serviço Ativo da Força Aérea Brasileira do
Tenente-Brigadeiro-do-Ar Aprígio Eduardo de Moura Azevedo.

Brasília, 24 de abril de 2013.

 
Antes de tudo, quero dedicar um especial agradecimento a todos os Senhores e Senhoras que, interferindo na agenda dos seus afazeres, trazem o fraterno prestígio de suas presenças, configurando singular moldura de apreço a esta cerimônia que se reveste de profundo significado para dois irmãos de farda.

Assim, peço-lhes vênia para iniciar esta mensagem dirigindo-me ao Excelentíssimo Senhor Tenente-Brigadeiro-do-Ar Marco Aurélio Gonçalves Mendes, meu dileto colega da Turma 67, esta que, carinhosamente, recebe a denominação “Mete a Cêpa”. Eis uma entidade plena de simbologia em nossas vidas, porquanto nela foi amalgamado um grupo de jovens sonhadores, com laços indissolúveis de amizade e respeito. Desde aquele longínquo 1º de março de 1967, ao mesmo tempo em que se unia o coletivo, forjavam-se o caráter e a têmpera dos indivíduos: nas salas de aulas, onde, embevecidos, ouvíamos a História literalmente contada pelo elegante Professor Fernando Victor, ou nos treinamentos de Ordem-unida exaustivamente praticados no Pátio da Bandeira da inesquecível Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena, nos contrafortes da Serra da Mantiqueira, nas Minas Gerais.
 
Ao expressar meu contentamento, por transmitir o Cargo de Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, ao ex-Pré-Cadete 67-062 Mendes, faço-o, em nome dos quatrocentos e doze companheiros que, há exatos quarenta e seis anos, perfilados e orgulhosos, envergando o azul dos “lindos passarinhos de Isabelinha”, juraram, em uníssono, compromisso incondicional à Bandeira, devotando-lhe todo o alento do ser, o mais puro sentimento de amor ao Brasil e afiançando-lhe lealdade “com o sacrifício da própria vida”, se assim fosse preciso.

A estes jovens, saudáveis e garbosos sessentões que, hoje, mais uma vez, desta feita neste Pátio da Bandeira da Base Aérea de Brasília, se encontram para renovar reverência aos princípios e valores, aprendidos e consolidados em Barbacena, que significaram verdadeiras balizas para os seus projetos de vida, presto-lhes minha continência, na condição de Oficial-General do último Posto do Serviço Ativo da Força Aérea Brasileira, cumprindo, nesta cerimônia, a derradeira missão. Meus irmãos, para todos, rogo a perene proteção divina.

Caríssimo amigo Tenente-Brigadeiro-do-Ar Mendes, somente aqueles que acreditam em seus ideais alcançam estrelas que, à primeira vista, parecem inatingíveis, conquistam objetivos desafiadores e, ao tornarem sonhos em realidade, identificam a dimensão daquilo que Immanuel Kant conceituava, ao afirmar:

“Há duas coisas belas no universo – o céu estrelado sobre nossas cabeças e o sentimento do dever cumprido em nossos corações”.
 
Penso ser esta a sensação que assoma o espírito do atleta vitorioso, do combatente destemido, do líder experiente que, nesta solenidade, assume a honrosa posição de Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Eis um portentoso feito, reflexo de uma das mais brilhantes carreiras que tive o privilégio de testemunhar, ao longo da caminhada, que já longe vai e, no meu caso, neste evento, está prestes a cerrarem-se cortinas.

Congratulando-me com Vossa Excelência, permita-me compartilhar uma constatação que remete à complexa empreitada ora atribuída. Refiro-me à diária lida com a Missão da Força Aérea Brasileira, qual seja, “Manter a soberania do Espaço Aéreo Nacional, com vistas à Defesa da Pátria”. Em seu conteúdo, tal responsabilidade abrange Ações de Força Aérea inseridas no espaço sobrejacente a uma dimensão de vinte e dois milhões de quilômetros quadrados, que nasce à altura do Meridiano 10, no Oceano Atlântico, espraiando-se até os confins da Amazônia. A este cenário, atrela-se uma visão de futuro ambicioso, mas possível de ser alcançado, porque o futuro está nas mãos dos que não têm receio de ousar, de encarar, com firmeza de atitudes, os desafios do quotidiano, de rejubilar-se nas vitórias, sem descurar, jamais, dos sensos de humildade e de zelo com os interesses maiores do bem comum.

Sua passagem por esta Organização irá conformar-se como uma indelével tarefa, emoldurada pela amplitude e seriedade dos temas – afinal, por delegação do Comandante, o planejamento da Força, cujas asas protegem o País, estará sob sua liderança, é claro suportado por uma magnífica tripulação de abnegados profissionais, os brilhantes componentes do seu efetivo, homens e mulheres, a quem manifesto as mais expressivas homenagens.

Vossa Excelência verá que os afazeres serão intensos, aqui e acolá, estendendo-se por alongados expedientes, contudo, à parte isso, configurar-se-á como preciosa experiência, porque, do ingente esforço, resultará o sucesso desta Casa do “pensar estratégico” de tantas tradições.

A você, à Rosária, à Patrícia, à estimada família, desejo-lhes saúde, paz de espírito e a concretização de todos os planos. Sigam seus caminhos sob o manto da Divina Providência. Sejam completamente felizes.
 
Prezados companheiros da Caserna, em particular da Força Aérea Brasileira, de quem recebi o privilégio de ombrear-me nos embates do dia a dia, ao longo de quase cinco décadas, aqui representados pela vibrante tropa que me oferta a distinção desta Guarda de Honra. Permitam-me cumprimentá-los pelo garbo da postura e elegância dos uniformes. Durante o desfile militar que ocorrerá em instantes, terei muita honra em render-lhes minha saudação. Estejam certos de que a harmônica cadência da sua marcha estará perfeitamente sincronizada com as emocionadas batidas do meu coração. Prossigam em suas vidas de Soldados de escol, cônscios das responsabilidades inerentes aos que escolhem, voluntariamente, os paradigmas da ordem, da hierarquia e da disciplina como farois de suas existências.
 
A esta altura volto meu pensamento para os generosos amigos que, ao brindar-me com o sinal de suas presenças, fazem-me tocante homenagem, a qual, de imediato, credito à Força Aérea Brasileira, ela, sim, é merecedora de reconhecimento por ter-me acolhido, ainda imberbe, sem perguntar de onde vinha, facultando-me uma miríade de oportunidades que sustentaram meu voo, através de um projeto de vida persistentemente construído e, ao fim e ao cabo, plenamente realizado.
 
“O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei”.
 
Para diante vou navegar, singrando outros ares com a mesma perseverança, pilotando uma bela nave cheia de vida, embalado pelo carinho e aconchego de uma linda família, almas grandes, ricas, luminosas, responsáveis pela trilha feliz da minha existência: a amantíssima Regina, alma-gêmea, há trinta e seis anos, lado a lado, compartilhando e vivenciando alegrias e tristezas, conquistas e desafios, servindo-me de guia, amparo, fortaleza inabalável de conforto e amor – Você é tudo de bom; Sabrina e Rafael, filhos queridos, verdadeiras pérolas que ornamentam nosso lar, hoje, enriquecido pelas companhias de Marcelo e Chris; Dona Aurora e o inesquecível Brigadeiro Alvarez, caros sogros; Seu Aprígio e Dona Josina, diletíssimos pais, atentos mentores a incutir generosos ensinamentos com o único propósito de moldar o caráter e a personalidade de um homem de bem; aqui, lembro, reverenciando, todos os meus familiares; por último, por isso mesmo deveras importante, destaco o pequeno Enzo, neto amado, centro das atenções, em sua inocência, consubstanciando a convicção de que o porvir permanecerá, como sempre, iluminado com as bênçãos dos Céus.
       
Continuarei a navegar, guardando os aprendizados hauridos nesta escola que é a Força Aérea, mirando-me no exemplo dos seus ícones: Alberto Santos-Dumont, o Pai da Aviação, o precursor por excelência; Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, o conterrâneo que se imolou, nos céus de Paris, para o engrandecimento da nobre arte de voar; Eduardo Gomes, corajoso soldado, irrepreensível homem público; Nero Moura, líder no Batismo de Fogo, em defesa dos ideais da liberdade e da democracia; Casemiro Montenegro Filho, o semeador de impensáveis iniciativas, origem da pujanteindústria aeronáutica nacional do presente, motivo de orgulho para todos os brasileiros. Cabe mencionar um saudoso registro aos Tenentes-Brigadeiros Octávio Júlio Moreira Lima e Murillo Santos, cuja reverência estendo a todos os Instrutores, Mestres e Comandantes com os quais interagi, homenageando-os, neste momento, por intermédio do Excelentíssimo Senhor Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, Comandante da Aeronáutica, pela distinção de facultar-me voar em sua ala e cumprir enriquecedora missão nestes últimos sete anos. Obrigado pela confiança e sinais de apreço.
       
A este conjunto de grandes líderes, agrego, com muito gosto, os magníficos companheiros de jornada, desde os Excelentíssimos Senhores Membros do Alto-Comando da Aeronáutica, que representam a mais elevada instância de assessoramento e decisão no âmbito desta Instituição; os Oficiais-Generais, os Oficiais, os Graduados e as Praças, os civis, homens e mulheres, com quem aprendi que amar a Força Aérea é servir ao Brasil. Abençoado rincão de fantásticas capacidades, de incontáveis riquezas, de exuberantes matas e irrequietos pássaros com seus maviosos gorgeios, de um povo alegre, altaneiro, criativo, corajoso, batalhador que, sem “temer da luta o perigo”, almeja, com teimosa obstinação, o engrandecimento, em paz, desta Terra de Santa Cruz.
       
Que Deus fortaleça, nos corações e mentes dos integrantes desta Casa de bravos guerreiros, a chama do entusiasmo, traço marcante dos “Cavaleiros do Século do Aço”, para continuarem, resolutos, na construção de uma Força Aérea sempre coesa, capaz de enfrentar as assimetrias do presente, confiante em seus valores, características imprescindíveis às instituições perenes, que emprestam o melhor de suas energias à consolidação de uma Nação, forte, justa e soberana.
       
De minha parte, resta-me apresentar despedidas, afiançando-lhes que, dos longes da minha saudade, jamais esquecerei os felizes dias aqui vividos. Confirmando-lhes que se transformaram em vívida realidade os sonhos do “menino de calças curtas”, filho da grande Florânia, erigida à beira de um regato não perene, ornando-se com a beleza de buganvílias renitentes, verdadeiro paradoxo nos confins dos sertões nordestinos, como que plasmando a assertiva de Euclides da Cunha:

O sertanejo é antes de tudo um forte”

É chegada a hora de partir e a emoção sugere-me cautela, razão pela qual valho-me da ajuda de Carlos Drummond de Andrade e de Fernando Pessoa, com o intuito de conformar a tessitura final desta mensagem:


“Prosseguimos. Reinauguramos.
Abrimos olhos gulosos a um sol diferente
Que nos acorda para (novos) descobrimentos.
Esta é a magia do tempo”.
E nesta magia pode-se compreender que:
“De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre recomeçando…
A certeza de que precisamos continuar…
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar…
Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo…
Do sonho, uma ponte…
Da procura, um encontro…”
E neste encontro, novo ato descortina a certeza de que:
“A alma é divina e a obra é imperfeita.
(Mas), da obra ousada, é minha a parte feita.
 O por-fazer é só com Deus.”


Muito obrigado.
Tenente-Brigadeiro-do-Ar Aprígio Eduardo de Moura Azevedo

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