Taser – Pistola de choque pode ser fatal, diz médico

Bruno Góes

A arma de choque elétrico modelo Taser usada pela polícia australiana para deter o brasileiro Roberto Laudisio, morto na madrugada de domingo, tem como efeito a incapacitação neuromuscular. O tiro tem o objetivo de debilitar temporariamente o alvo, como afirma o fabricante. Mas, segundo a Anistia Internacional, essa não é a única consequência. Para a entidade, o armamento é perigoso e pode matar. De 2001 até fevereiro de 2009, 500 pessoas pessoas morreram nos Estados Unidos após serem atingidas pela descarga elétrica, segundo a ONG.

A pistola funciona através de um sistema de propulsão, que lança dois dardos a uma distância de até dez metros. Estes dardos penetram na roupa do suspeito, aderem ao corpo e liberam a descarga elétrica.

A Taser produz cerca de 50 mil volts, mas, segundo Marcelo Corbage, instrutor de armamento e capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), apenas pulsos de 5 mil volts atingem de fato o corpo do alvo, já que o restante é dissipado. Além do BOPE, no Rio, a arma é utilizada pela Guarda Municipal, pelo Batalhão de Choque da PM e pelo patrulhamento turístico da PM.

Chefe do setor de cardiologia do Hospital Municipal Souza Aguiar, o médico Marco Antônio Araújo explica que, do ponto de vista cardiológico, um choque, mesmo baixo, de cerca de 50 miliampères, pode causar parada cardíaca ou levar a uma arritmia fatal.

– O coração tem um ciclo elétrico e é comandado por marcapassos fisiológicos. Se um estímulo elétrico for aplicada no final desse ciclo, o coração pode fibrilar, que é quando perde a função de bombear de modo eficaz o sangue, ou parar. Nesses casos, o socorro precisa ser imediato – diz Araújo.

Em seu site, a Taser diz que há mais de 250 estudos médicos que comprovam a segurança da tecnologia. E que US$ 4,5 milhões foram investidos em pesquisas nos últimos cinco anos. Apresenta ainda um estudo que diz que 99,75% das pessoas atingidas não tiveram danos significativos.

– Das centenas de pessoas que perderam vidas nos EUA pode-se concluir que em dezenas de casos houve um mau uso da força. É inaceitável – diz Susan Lee, do Programa para a América da Anistia Internacional.

Segundo Corbage, uma carga acima de 10 ampères pode ser fatal:
– Se ele foi atingido no pescoço, há grande chance de sufocamento e obstrução da epiglote. Há que se ver ainda se na hora em que o menino caiu no chão, os policiais não acabaram sufocando-o. Ou se houve contusão na cabeça.

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