Mercado global de armas em alta

A indústria global da defesa caminha a passos largos. Entre 2013 e 2017, as vendas de armamentos aumentaram 10% em comparação ao período entre 2008 e 2012, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri). Segundo o estudo, o salto se deve ao aumento da venda de armas para países na Ásia, Oceania e Oriente Médio. 

Os maiores exportadores de armas ainda são os Estados Unidos, com 34% do mercado. As exportações americanas aumentaram em um quarto, com o país fornecendo equipamento militar para 98 nações.

Aude Fleurant, especialista do Sipri, diz que contratos fechados durante a presidência de Barack Obama fizeram com que o comércio de armas dos EUA atingisse seu nível mais alto desde os anos 1990.

"Esses acordos e outros contratos assinados em 2017 vão assegurar que os EUA continuem sendo os maiores exportadores nos próximos anos", observa.

A Rússia permanece em segundo lugar, apesar de uma redução de 7% em relação ao período de cinco anos anterior analisado pelo Sipri. O país mantém uma fatia de 22% do mercado. 

Após a França, a Alemanha continua sendo o 4º maior exportador, mesmo após reduzir as vendas de armamentos em 14%. O país exportou duas vezes mais armas para o Oriente Médio do que no período anterior.

O analista do Sipri Pieter Wezeman aponta que a maioria dos países do Oriente Médio está envolvida diretamente em conflitos. Apesar do debate político na Europa e na América do Norte sobre uma redução das exportações para a região, os Estados Unidos e os países europeus continuam sendo os maiores fornecedores de armamentos.

O maior importador de armas do mundo continua sendo a Índia, com 12% do mercado global. "As tensões envolvendo, de um lado, a Índia e do outro, o Paquistão e a China alimentam a demanda por armamentos que os indianos não conseguem produzir no país", afirma o relatório do Sipri.

O segundo maior importador é a Arábia Saudita – que triplicou suas compras de armas –, seguida do Egito, Emirados Átrabes Unidos e China. Pequim reduziu as compras de armamentos em 5%, provavelmente em razão do aumento significativo de sua produção bélica. Ao mesmo tempo, as exportações de armas chinesas aumentaram em 38%. O país fornece armas sobretudo para Paquistão, Argélia e Bangladesh.  

As importações de armamentos por países europeus caiu 22%. Segundo o Sipri, porém, elas tendem a aumentar nos próximos anos com o agravamento das tensões com a Rússia.

Guerra turca com armas alemãs

As fotos de uma agência de notícias comprovam: o Exército turco também está usando tanques de guerra do tipo Leopard 2, de produção alemã, em sua ofensiva contra a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG) na Síria.

O governo em Ancara ficou irritado com as críticas ao uso dos tanques Leopard 2. "Nós os compramos para dias como hoje, quando estamos sendo atacados. Em que outras ocasiões deveríamos usá-los?", rebateu o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim.

Além disso, o premiê declarou em sua visita a Berlim, em 15 de fevereiro, que seria tarefa da Turquia defender o flanco sul da Aliança Atlântica, completando que "como membro da Otan, essa também é responsabilidade da Alemanha".

A ofensiva turca cria dificuldades para o governo alemão, que planejava aprovar a reequipagem dos Leopard-2. Ao menos oficialmente, agora não se fala mais nisso. Embora haja rumores de que o negócio já foi iniciado, a Alemanha ainda está sendo governada de forma interina, e a decisão final caberá ao novo governo em Berlim.

Os negócios armamentistas entre a Alemanha e a Turquia têm longa tradição: desde a década de 1980, o governo turco tem comprado – além de outras armas – tanques de guerra Leopard, produzidos pelas empresas Rheinmetall e Krauss-Maffei.

Atualmente, o Exército turco possui centenas de tanques desse tipo, considerado "a Mercedes" entre os tanques de guerra. O Leopard 2, modelo também usado pelas Forças Armadas alemãs, é a versão mais moderna e altamente procurada no mercado global de armamentos.

Com e sem restrições

Porém o interesse de compra não basta para que um país possa adquirir material bélico da Alemanha. As encomendas precisam ser apresentadas pelo fabricante ao governo alemão, que então decide sobre a aprovação. Suas decisões são baseadas nas diretrizes de exportação de armas, emitidas em 2000 pelo governo, então liderado por verdes e social-democratas.

Nessa diretriz, um capítulo à parte foi dedicado aos parceiros na União Europeia (UE) e na Otan, da qual a Turquia é membro. Eles são considerados, em tese, países receptores confiáveis, por esse motivo, consta na legislação de exportação de armas que "em princípio não se deve limitá-la, a não ser que, por razões políticas específicas, seja necessária uma restrição em casos individuais".

Foi assim que o governo em Berlim tratava normalmente o assunto, quando a Turquia encomendava armamentos alemães. No entanto, algumas entregas estavam sujeitas a restrições, como a chamada "assistência à defesa da Otan". Nesses casos, Ancara tinha de se comprometer a só usar as armas para a defesa do país, e não no contexto de conflitos domésticos, como contra os curdos.

No entanto observadores têm repetidamente expressado dúvidas de que essas restrições estariam sendo cumpridas. A entrega dos cerca de 350 tanques Leopard 2 foi meramente vinculada a uma cláusula que restringe sua revenda.

Menos permissões

Nas últimas décadas, as empresas alemãs forneceram à Turquia sobretudo armas portáteis, tanques e navios de guerra. Os negócios estavam aquecidos. Diante do conflito curdo e da situação dos direitos humanos no Bósforo, em especial as legendas de oposição A Esquerda e o Partido Verde exigiram repetidamente uma suspensão completa da venda de armamentos.

No entanto só se tomaram medidas nessa direção depois da fracassada tentativa de golpe de Estado na Turquia, em julho de 2016, que foi seguida de uma forte repressão no país.

Preocupado com a possibilidade de que, nesse contexto, fossem usadas armas alemãs, Berlim congelou as licenças de exportação para a Turquia. Mas isso não interrompeu os negócios de armamentos. De acordo com os dados mais recentes disponíveis, nos primeiros quatro meses de 2017 o governo alemão emitiu 57 autorizações.

A prioridade máxima não parece ser a situação dos direitos humanos, "mas o princípio de que a exportação de armas e de outros materiais bélicos à Turquia, parceiro na Otan, não seja fundamentalmente restringida", reclamou a bancada parlamentar do Partido Verde, em maio último, num questionamento ao governo federal alemão.

"Não houve negócios sujos"

A prisão de cidadãos alemães na Turquia também ajudou a congelar as ofertas de armas. Não sem motivo, o jornalista Deniz Yücel, libertado há poucos dias depois de passar quase um ano numa prisão turca sem acusação formal, se opôs veementemente a que se vinculasse sua liberação a "acordos sujos", ou seja, a promessas de certas vendas de armas.

O governo em Berlim nega ter feito quaisquer promessas. "Não houve negócios limpos nem sujos", disse o ministro do Exterior alemão, Sigmar Gabriel. "Nunca houve um acordo", reforçou seu homólogo turco, Mevlüt Cavusoglu.

Atualmente um número cada vez maior de parlamentares e ativistas dos direitos humanos alerta contra a venda de novas armas a Ancara. Por exemplo, a Conferência Conjunta Igreja e Desenvolvimento (GKKE), grupo de trabalho de católicos e protestantes alemães sobre política de desenvolvimento, exigiu que sejam suspensas todas as exportações de armamentos para a Turquia.

Fabricação de tanques na Turquia

No médio prazo, a Turquia procura tornar-se mais independente das exportações de armas do exterior, e por isso está expandindo sua própria indústria de defesa. Planeja-se a construção de mil tanques de guerra turcos do tipo Altay.

Entretanto isso não é possível sem expertise, licenças e transferência de tecnologia do exterior. Nesse ponto, mais uma vez entre em cena empresas alemãs como Rheinmetall – que recorre a novas formas de cooperação com a Turquia.

Junto a uma empresa turca, em 2016 a Rheinmetall fundou o consórcio Rheinmetall BMC Defence Industry na Turquia. Essa empresa se candidatou para o desenvolvimento e a construção do tanque de guerra Altay. Contanto que não envolva compra de peças armamentistas da Alemanha, esse tipo de transferência de tecnologia não exige autorização de Berlim.

 

 

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