O protagonismo de Macri

A eleição do liberal Mauricio Macri à presidência da Argentina está provocando uma inversão de papéis entre as duas maiores economias da América do Sul. Nos últimos 30 anos, por força de seu PIB, das dimensões territoriais e de uma população pelo menos cinco vezes maior, o Brasil assumiu o protagonismo do continente e se tornou uma das nações emergentes mais admiradas pela comunidade internacional.

Em 2016, Brasil e Argentina parecem ter trocado de lugar no tabuleiro geopolítico global. Enquanto os brasileiros amargam um pessimismo sem precedente e enfrentam uma série de denúncias de corrupção que colocam o ânimo da nação cada vez mais para baixo, os vizinhos vivem situação radicalmente oposta. Por lá, a vitória de Macri no pleito de novembro desencadeou uma onda avassaladora de otimismo.

Mais do que isso: com um discurso sensato em prol da retomada dos investimentos, avesso a ideologias arcaicas e disposto a governar para todo o país e não apenas para os aliados, Macri conquistou os argentinos e começou a chamar a atenção de outros líderes mundiais.

Enquanto o Brasil parece caminhar rumo ao abismo, a Argentina encontrou o rumo para sair da crise. A imagem brasileira se desgasta e a reputação argentina melhora a cada dia. “A voz do Brasil tem sido diminuída nos últimos anos”, disse à ISTOÉ o economista Thomas Trebat, diretor do Columbia Global Center, instituto ligado a uma das universidades mais importantes do mundo.

“O fato de a Argentina ser vista novamente como alvo de investimento estrangeiro beneficiará todo o continente.” Nas duas últimas semanas, veículos importantes como os britânicos The Economist e Financial Times publicaram extensas reportagens sobre o declínio do Brasil.

O Financial Times chegou a brincar com a velha rivalidade. “Durante o Mundial de 2014, a Argentina surpreendeu ao chegar à final, enquanto o Brasil, o anfitrião e um dos favoritos para vencer, sofreu uma derrota humilhante de 7 a 1 para a Alemanha. É cedo, mas se Macri cumprir suas promessas, os argentinos em breve terão outro motivo para se vangloriar.”

O exemplo acabado dessa inversão de papéis será o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, que ocorrerá no fim de janeiro. Se no passado recente os brasileiros eram as estrelas do encontro, desta vez o privilégio ficará com Macri, o primeiro líder argentino em 12 anos a participar da reunião com a elite financeira global.

A missão de Macri será restabelecer a confiança dos empresários e investidores num país que, nos anos de kirchnerismo, se fechou no protecionismo e no radicalismo ideológico – qualquer semelhança com o que se passa no Brasil não é mera coincidência. Detalhe: em 2016, Dilma não participará do evento.

Na comitiva de Macri, irá também o líder da dissidência peronista Sérgio Massa, que ficou em terceiro nas eleições presidenciais do ano passado, num gesto de conciliação entre os adversários que mostra o perfil de um presidente aberto ao diálogo. “Em temas de política externa, os líderes devem se unir em um objetivo comum”, declarou Massa.

Segundo o jornal argentino La Nación, o presidente terá ao menos sete encontros bilaterais na Suíça. Entre eles, com o vice-presidente americano, Joe Biden, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e o presidente suíço, Johann Schneider-Ammann.

O grupo deverá buscar investimentos externos, sobretudo para as áreas de energia, indústria e infraestrutura. Só para essa última, o novo presidente argentino prometeu atrair US$ 25 bilhões nos próximos quatro anos. No Brasil, não se vê um movimento parecido com esse.

Para coroar o novo protagonismo da Argentina na América do Sul, já há dois movimentos em curso. O primeiro deles é a recepção a líderes estrangeiros. Neste ano, são esperadas em Buenos Aires as visitas oficiais de François Hollande, presidente da França, e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.

Até no futebol os vizinhos estão prestes a dar um drible nos brasileiros. Na quinta-feira 7, Macri e o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez, anunciaram candidatura conjunta para sediar a Copa do Mundo de 2030, quando será comemorado o centésimo aniversário do torneio. O Brasil está mesmo ficando para trás.

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