Silêncio do Kirchnerismo aumenta mistério dos super-rebocadores


Silêncio do Kirchnerismo aumenta
mistério dos super-rebocadores

 
 

Roberto Lopes
Exclusivo para DefesaNet
Robertojlopes@hotmail.com

 
Considerado um dos nomes mais fortes para se transformar no herdeiro político do Kirchnerismo, o Chefe do Gabinete de Ministros do governo Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, de 50 anos, preferiu adotar a tática do silêncio, diante de uma solicitação do deputado da UCR (União Cívica Radical), Julio Cesar Martinez.

Desde a primeira semana de junho Martinez, parlamentar que representa a Província de La Rioja, tenta obter do Ministério da Defesa, em Buenos Aires, uma explicação detalhada para a anunciada operação de compra, pelo governo, de quatro super-rebocadores classe “Neftegaz” – cada um com deslocamento de quase 3.000 toneladas (2.723 tons.) – destinados à Armada do país platino.

Uma curta manifestação do ministro da Defesa, Agustín Rossi, no fim do primeiro semestre, de que os barcos vão substituir três velhos avisos (rebocadores convertidos em embarcações de uso geral) de fabricação americana, da época da 2ª Guerra Mundial – “Francisco de Gurruchaga”, “Suboficial Castillo” e “Alférez Sobral” –, não convenceu o deputado.

Segundo a versão oficial, os navios fabricados na Polônia, na metade final dos anos de 1980, têm o casco reforçado para suportar a navegação em mares gelados, e se encontram hoje a serviço da companhia russa Arktikmor Neftegaz Razvedka, de exploração de petróleo e gás, sediada em Murmansk, 200 km ao norte do Círculo Polar Ártico.

Eles estariam sendo adquiridos para operar como “avisos multipropósitos”. Com essa classificação, assumiriam as missões inerentes à campanha da Marinha argentina na região da Antártida. Além disso, deverão estar aptos a atender também os serviços de patrulha em latitudes meridionais, salvaguarda da vida humana no mar e combate à poluição marinha.

A compra dos barcos passaria despercebida, não fosse o fato de que a República Argentina mantém um litígio com a Grã-Bretanha por causa da soberania das Ilhas Malvinas – os dois países já foram à guerra por causa do arquipélago, 32 anos atrás.

Assim, no início de maio passado, dois dados chamaram a atenção dos meios navais europeus: o fato de as embarcações, hoje sob bandeira russa, parecerem inadequadas – desaparelhadas – para as tarefas que as aguardam no hemisfério sul, e a constatação de que seu projeto as capacita ao métier bastante específico da movimentação e posicionamento de plataformas de exploração petrolífera em alto mar.

Peritos navais do Ocidente ouvidos pela mídia especializada ressaltaram, por exemplo, o fato dos navios serem excessivamente lentos para cumprir missões de interceptação em águas azuis, salvamento e preservação do meio ambiente.

A 23 de maio, DefesaNet Agência de Notícias noticiou o interesse da Marinha argentina pelos navios (EXCLUSIVO: Buenos Aires se prepara para escalar crise no Atlântico Sul), lembrando que, por meio dessa incorporação, a Flota de Mar se capacitava a capturar as plataformas de petróleo que companhias britânicas e americanas pudessem despachar para as Falklands (que é como chamam as Malvinas), com a finalidade de iniciar a exploração de petróleo em águas do arquipélago – possivelmente pelo campo de Sea Lion. O governo de Buenos Aires considera inadmissível a exploração do petróleo malvinense.

Quatorze dias depois de o artigo da Defesanet ter entrado no ar, o deputado oposicionista Julio Cesar Martinez pediu o apoio de seus colegas da Câmara dos Deputados para interrogar a Administração Kirchner sobre o assunto.

“A compra destes navios resulta a todas as luzes incompreensível”, disse ele em sua petição, “porque não se entende para quê a Armada quer naves do tipo AHTS (Anchor Handling Tug Suplply Vessels) sem capacidade de armazenamento, (…) nem posicionamento dinâmico, nem fundeio a quatro pontos, nem guincho de reboque, nem guincho de âncora, que não levam material de perfuração, não contam com [sistema de] recuperação de óleo, não têm sistema antipoluição/contaminação nem de luta contra incêndios (fire fighting), gruas de alta capacidade, nem [equipamento de] mergulho de saturação, nem planta de tratamento de resíduos de esgoto (…)”.

Martinez prossegue: “Só se explicaria a compra se, como argumenta o jornalista brasileiro Roberto Lopes [autor da reportagem veiculada por Defesanet], hipótese de que faz eco o diário sensacionalista britânico Daily Express, com esses navios ‘projetados para efetuar manobras e posicionamento de plataformas petrolíferas em alto mar’ se planejasse ‘participar em missões para interceptar e capturar as plataformas petrolíferas’ pertencentes à empresa inglesa Premier Oil que estariam se movendo para o arquipélago das Ilhas Malvinas para ativar, no segundo trimestre de 2015, a campanha para realizar perfurações”.

Mas o político vai além: “O que resulta claro e evidente é que não são barcos polares e quebra-gelos, e menos ainda avisos multipropósitos nem patrulheiros oceânicos. Os navios que estariam sendo negociados não têm velocidade para patrulhar – navegam a 10 nós (18,52 km/h.) contra os 16 ou 20 nós que navega qualquer barco dos que atualmente cortam o Atlântico Sul –, não contam com armamento e seus motores consomem muito gasoil.

Tampouco temos claro se estas quatro embarcações têm os certificados de classificação e manutenção em dia, qual é o estado do casco, as máquinas e o sistema elétrico, a data da última internação em dique seco e quem os classificou – se uma sociedade [classificadora] reconhecida ou a própria Federação Russa.

Os efetivos de nossas Forças Armadas em geral, e da Armada neste caso pontual, necessitam de elementos modernos para alcançar um eficiente grau de profissionalização. Não podemos aspirar capacitar um militar se colocamos em suas mãos um material obsoleto, que é até perigoso para sua integridade física, nem podemos falar levianamente de reequipamento de nossas Forças Armadas com a compra de naves que no mercado já se vendem quase como sucata”, conclui Julio Cesar Martinez.

O apelo do deputado a seus pares no Congresso argentino foi em vão. O pedido “foi impedido pelo oficialismo (bloqueado pela bancada de sustenção ao governo)”, disse o parlamentar, por e-mail, à Defesanet esta semana.

Uma solicitação feita pelo oposicionista diretamente ao Chefe do Gabinete de Ministros, Capitanich, resultou igualmente infrutífera. “Ele tampouco nos respondeu”, explicou Martinez.

O mais interessante é que, depois da polêmica criada, a Marinha argentina não emitiu mais nenhuma nota oficial acerca das quatro embarcações de origem polonesa. Apenas o ministro Rossi, em entrevista recente, por ocasião das comemorações alusivas à data de criação da Marinha de seu país, reafirmou que a Armada vizinha investiga a possibilidade de encomendar navios de apoio na Rússia e na China.

 

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