Santiago del Estero: a nova capital argentina?

Marcia Carmo
 

Com apenas 230 mil habitantes, a pacata Santiago del Estero, no norte da Argentina, aparece pouco no noticiário do país. Mas, nas últimas semanas, Santiago del Estero virou um dos assuntos de destaque na imprensa argentina.

A presidente Cristina Kirchner lançou a ideia de transferir a capital do país para a cidade, onde, devido à cultura local e às altas temperaturas normalmente registradas no verão, ainda se cultiva a tradicional "siesta" – o cochilo após o almoço herdado dos colonizadores espanhóis.

A principal justificativa para a mudança, segundo Kirchner, é a localização geográfica de Santiago del Estero.

"Com visão estratégica, deveríamos pensar em um desenho territorial diferente porque o mundo mudou", afirmou a presidente argentina durante visita à cidade no final de agosto.

Segundo Kirchner, a transferência de Buenos Aires para Santiago del Estero aproximaria a Argentina de novos mercados de exportação, como a região asiática.

"Como dirigentes devemos nos adiantar [aos fatos]. Hoje, nosso comércio está cada vez mais orientado ao Oriente. Do mundo desenvolvido, só chegam crises e problemas. Enquanto do outro lado [países asiáticos] cada vez compram mais nossos produtos", afirmou.

'Saída para o Pacífico'

Conhecida como "mãe das cidades", por ser a mais antiga do país, Santiago del Estero – ou apenas Santiago, como é chamada pelos argentinos – foi fundada em 1563 e se localiza a cerca de 1,2 mil km de Buenos Aires.

Historiadores lembram que a cidade de Santiago del Estero foi disputada pelos incas, pelos espanhóis e pelo Chile, nos séculos 15 e 16.

Também está a 400 km da fronteira com o Chile, país banhado pelo Oceano Pacífico e que, como o Peru, é visto como "porta de entrada" para a Ásia.

Já Buenos Aires se localiza às margens do Rio da Prata, próxima do Uruguai e do Brasil.

"Também temos de pensar como região, como Mercosul, Unasul, América do Sul", completou Cristina.

Críticas

A proposta de Kirchner gerou polêmica e dividiu a opinião pública argentina. "Deve ser uma brincadeira", disse o senador opositor e cineasta Fernando Pino Solanas.

"Se o governo quer uma saída para o Pacífico, que realize uma política externa adequada", afirmou a senadora Laura Alonso, também da oposição.

No entanto, nem mesmo Kirchner demonstra confiança na viabilidade de sua proposta.

Na terça-feira, em pronunciamento na TV, a presidente exaltou a capital Buenos Aires e anunciou que a cidade abrigará o prédio "mais alto da América Latina", ainda a ser construído.

Santiago del Estero é a cidade mais importante da província de mesmo nome, governada por Claudia Ledesma Abdala, e considerada uma das mais pobres do país. As indústrias são raras e as principais fontes de receita da região são a agricultura, o comércio, o funcionalismo público e o turismo.

Abdala – os sobrenomes de origem árabe são comuns na região – sucedeu seu marido, o senador kirchnerista Gerardo Zamora, como governadora de Santiago del Estero após a Justiça ter impedido a candidatura dele.

Atualmente, Zamora é presidente do Senado argentino e terceiro na linha sucessória à Presidência, após Kirchner e o vice-presidente, Amado Boudou.

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