Blindados contra o narcotráfico

Marcos Ommati


Depois de sua participação na IV Conferência de Defesa Sul-Americana, de 24 a 26 de julho em Bogotá, Colômbia, o General-de-Exército Jorge Peña Cobeña, chefe do Estado-Maior Operacional do Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador, concedeu uma entrevista a Diálogo na qual afirmou que a cooperação entre agentes em âmbito nacional, regional e hemisférico é chave para combater o narcotráfico e o crime organizado transnacional.

Diálogo: General, qual é o papel desempenhado pelas Forças Armadas do Equador nas tarefas de ajuda humanitária e assistência em casos de desastres naturais?

General-de-Exército Jorge Peña Cobeña: No Equador, a Secretaria Nacional de Riscos é o órgão encarregado de prevenir e enfrentar os desastres naturais. Obviamente existe uma estreita coordenação com as Forças Armadas baseada em um planejamento já estabelecido e em protocolos que fizemos junto com essa secretaria para, na eventualidade de um desastre, atuar imediatamente como Forças Armadas, sem qualquer outra disposição, como um compromisso natural que temos com nossa infraestrutura e com nosso pessoal de apoio.

Diálogo: Qual a sua opinião com relação a um organismo regional para coordenar a ajuda humanitária e a assistência em casos de desastres naturais e também a um organismo contra o narcotráfico?

Gen Ex Peña: Existem vários compromissos no âmbito internacional para assistência a desastres. Temos compromissos estabelecidos no hemisfério para prestar auxílio a qualquer país que dele necessite em casos de desastres naturais. Enviamos ajuda humanitária e contingentes a países como o Chile, quando sofreu o terremoto e o tsunami; a El Salvador, Honduras e Colômbia, quando sofreram as inundações; e também demos apoio ao Haiti com ajuda humanitária, além da colaboração que prestamos como Nações Unidas com nosso contingente. Da mesma forma como enviamos, também recebemos ajuda quando sofremos algum desastre. Por exemplo, durante as inundações que tivemos no ano passado, países como Colômbia, Venezuela e Chile nos assistiram imediatamente com base nesses convênios.

Isto também se aplica à questão do crime transnacional e do narcotráfico. Em nosso país esses temas são tratados pelo Ministério do Interior, Ministério da Justiça e pela Polícia Nacional, que também têm protocolos de assistência, principalmente em questões de intercâmbio de informações para poder atuar como Estado contra esse flagelo.

Além disto, como Forças Armadas, estamos buscando uma aproximação maior com o Comando Sul dos EUA porque sabemos que ele tem uma organização entre agentes [Força Tarefa Conjunta Interagentes Sul] em Cayo Hueso que pode nos ajudar muito. Queremos manter um contato maior com essa organização para podermos atuar de forma mais eficiente contra o narcotráfico e o crime organizado.

Diálogo: O senhor nos poderia falar sobre os acordos bilaterais ou multinacionais do Equador na região?

Gen Ex Peña: Temos uma estrutura como a Unasul e como o Conselho Sul-Americano de Defesa, onde há vários aspectos de coordenação, mas também se fala de cooperação em temas como o narcotráfico, especialmente no intercâmbio de informações.

Diálogo: O Equador está preparado para reagir a uma erupção vulcânica?

Gen Ex Peña: Há aproximadamente cinco anos o país se conscientizou de que corre riscos de erupções vulcânicas e desenvolveu campanhas dirigidas pela Secretaria Nacional de Gestão de Riscos. Assim sendo, em coordenação com as Forças Armadas e outros organismos, a população está sendo orientada para saber como deve reagir, como organizar as pessoas próximas aos vulcões, para que tenham rotas de fuga, e ensinamos a todos o que deve ser feito diante da possibilidade de um terremoto provocado por uma erupção vulcânica, entre outros temas.

Diálogo: Nos últimos anos, Argentina e Brasil, que antes eram países de trânsito de drogas, transformaram-se em fortes consumidores. O senhor acredita que isto possa ocorrer também no Equador, um país que durante muitos anos esteve imune ao narcotráfico?

Gen Ex Peña: Não que estejamos imunes a isto no Equador, o que ocorre é que não temos cultivos de coca. Temos um ou outro hectare que controlamos e destruímos, mas praticamente podemos dizer que não produzimos insumos para a droga. Somos, sim, um país de trânsito e nos transformamos em um país de armazenamento de drogas que serão enviadas a outros países. Já encontramos submersíveis construídos em nosso país para o tráfico de drogas, já detectamos voos ilegais vinculados ao narcotráfico, e grandes redes de narcotraficantes já utilizam nosso país como país de trânsito. Não somos imunes ao flagelo porque, ainda que não sejamos produtores, estamos preocupados porque nos tornamos um país de trânsito e precisamos tomar medidas enérgicas quanto a isto.

Por outro lado, o consumo em outros países como Argentina e Brasil aumentou, tal como na Europa e nos Estados Unidos, onde é extremamente alto. No Equador não estamos isentos porque as sociedades vão se contaminando com esses males. Como política do Ministério da Saúde do Equador, fazemos campanhas para evitar esse problema, porque realmente existem indícios de que nossos jovens estejam entrando nesse mundo… Nosso país tem um micro tráfico de drogas bastante preocupante. Não atingimos os níveis observados em outros locais, mas como não queremos chegar a tais níveis, o Estado está tomando providências para evitar isto.

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