Vítimas de abuso sexual das Farc relatam sofrimento após acordo de paz

Yeimy soluçou com o rosto entre as mãos ao descrever como o marido foi amarrado em um poste, amordaçado e obrigado a assistir enquanto ela era estuprada por quatro combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) 12 anos atrás.

O marido dela, Elkin, havia sido sequestrado pela 45ª Frente das Farc na região de Tolima, no centro da Colômbia, por ter se recusado a pagar uma taxa ou entregar o filho de 6 anos do casal aos terroritas marxistas para se tornar parte do grupo armado, disse Yeimy.

Depois de atravessar a selva durante dias para encontrar o acampamento rebelde, Yeimy implorou pela libertação do marido, mas o comandante terrorista conhecido pelo codinome Pepito exigiu um preço terrível, contou. “Ele me disse ‘escolherei quatro dos meus homens e eles farão o que quiserem com você’”, disse Yeimy, de 37 anos, que pediu que o nome de sua família não fosse divulgado.

Após fechar o acordo para a soltura do marido, Yeimy fugiu com a família para Soacha, perto da capital Bogotá, que abriga dezenas de milhares de pessoas deslocadas pelo conflito.

Mas dois anos mais tarde os terroristas que sequestraram seu marido os encontraram e alegaram que o casal ainda devia às Farc a chamada taxa revolucionária. Yeimy disse que eles levaram seu companheiro e o mataram a tiros. Yeimy é uma das centenas de mulheres que vieram a público para conversar com grupos de vítimas sobre abusos sexuais sofridos durante as cinco décadas de guerra civil na Colômbia.

Depois de fechar um acordo de paz com as Farc em 2016, o governo criou um Tribunal de Paz Especial (JEP) para julgar crimes cometidos por todos os lados do conflito. Yeimy iniciou sessões de terapia com um psicólogo para superar o medo para que possa depor diante de um defensor público, disse Sonia Tarquino, que comanda um programa para vítimas em Soacha.

A Reuters não conseguiu verificar o relato de Yeimy de forma independente. O porta-voz das Farc não quis comentar alegações individuais de crimes de guerra depois do acordo de paz, dizendo que tais casos serão julgados pelo JEP — mas no mês passado três associações de vítimas entregaram dois mil casos documentados de abuso sexual ao tribunal.

A presidente do JEP, Patricia Linares, disse que os responsáveis não escaparão da Justiça, mas serão candidatos a sentenças sem penas de prisão se confessarem os crimes.

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