Cel Montenegro – O Nobel de Sangue na Colômbia

 

Coronel Fernando Montenegro

Comandou a ocupação do Complexo do Alemão, Doutorando em Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa,  Operador de Forças Especiais do Exército Brasileiro e jornalista.

Em 2016 as manchetes de jornais difundiram efusivamente a assinatura do tratado de paz entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas). Após entrevistar militares, policiais e civis colombianos e estrangeiros que viveram recentemente naquele país, chega-se a conclusões preocupantes e divergentes daquilo que o atual presidente Juan Manuel Santos enfatizou para conseguir receber o Prêmio Nobel da Paz.

Nossos hermanos colombianos estão cansados de tanto derramamento de sangue e desigualdade social. A centelha dessa violência iniciou em plena Guerra Fria, quando a tentativa de exportar a ideologia comunista levou à criação de grupos guerrilheiros como as FARC, ELN e M19. O assessoramento e patrocínio de cubanos caracterizou esse início.

Nos anos 1980, Pablo Escobar saiu do zero, estabeleceu o Cartel de Medellín e levou o narcotráfico da cocaína a patamares que ninguém poderia imaginar, chamando atenção do mundo sobre o potencial econômico do “ouro branco”. Na esteira também veio o Cartel de Cálli. As duas facções entraram em guerra entre si e contra o Estado Colombiano enquanto interagiam com as guerrilhas.

O presidente Juan Manuel Santos em reuniçao na ONU, dia 24 de Abril, defendendo seu acordo de Paz. Leis os comentários colocados no twitter

Escobar chegou a patrocinar a espetacular ação armada do M 19 contra o Palácio da Justiça, em que várias pessoas, incluindo os magistrados, foram tomadas reféns. O evento terminou com uma ação militar deixando vários mortos e consequências jurídicas que se arrastam até hoje. Em novembro de 1989 esse grupo depôs as armas e a maioria tornou-se motorista de táxi.

Com a ajuda americana do DEA (Drug Enforcement Administration-órgão de repressão ao narcotráfico), foi possível derrotar os cartéis de Medellín e de Cálli. Essa fase coincidiu com o fim da URSS e, consequentemente, secaram os recursos para patrocinar as guerrilhas. Como não existe vácuo de poder e os guerrilheiros já haviam inclusive prestado “serviços” aos cartéis de segurança de plantações e laboratórios, ficou fácil imaginar uma solução. FARC e ELN tornaram-se narcoguerrilhas, mas mantiveram a ideologia para facilitar o controle da tropa.

A renda também era complementada com os sequestros, mais a cobrança da "vacuna" (extorsão) como modo de se financiarem. Nem sempre eles tomaram plantações dos cartéis; muitas vezes apenas estimulam o pobre do campo, abandonado por todos, a plantar Coca e vender a produção a eles.

Apesar do apoio dos EUA durante a década de 1990 no combate às narcoguerrilhas, o enfraquecimento das mesmas, particularmente as FARC, só teve resultados contundentes devido ao empenho pessoal do Presidente Álvaro Uribe. Ele era da região de Antióquia, centro da Colômbia e cujos pais haviam sido mortos por guerrilheiros.

Uribe governou de 2002 a 2010. Nesse período, as FFAA e policiais colombianas derrotaram militarmente as FARC porque ele, pessoalmente, ordenava aos generais comandantes de guarnições e cobrava impulsão. Se não houvesse resultados ( às vezes contabilizados em números de mortos), os Generais e Coronéis eram destituídos. Isso deu resultado e a pressão de cima para baixo fez as tropas combaterem.

Por outro lado, como efeitos colaterais surgiram os "falsos positivos" que levaram muitos militares para as prisões. Vários relatos registram que, para atingir “a cota de mortos”, e não perder as vantagens e gratificações do Comando (e quem sabe algo mais) eles matavam civis e diziam que eram guerrilheiros. Ouvi diretamente de um militar o relato de que se indispôs com outros militares e impediu um falso positivo porque discordava dessa orientação.

Santos era o prestigiado Ministro da Defesa de Uribe na 2ª Legislatura (Mandato) e sempre recebia os créditos  quando ocorriam as vitórias sobre as guerrilhas. Inclusive, quando mataram Mono Jojoy no Equador, quem foi à frente falar foi o Santos. Uribe fazia isso porque queria eleger um sucessor que garantisse a continuidade ao combate e terminasse de exterminar as guerrilhas.

Ocorre que o Santos, extremamente vaidoso, assim que assumiu o poder, colocou como objetivo pessoal receber o Prêmio Nobel da Paz e iniciou negociações secretas com a guerrilha. Assim sendo, tudo que a guerrilha não conseguiu em 50 anos de combates, conseguiu em poucos anos de conversações com o Santos: impunidade, anistia, manteve o financiamento do narcotráfico (área de plantio de coca triplicou), ninguém foi (nem vai ser) preso, verba para fazer propaganda política, cinco cadeiras cativas das FARC na câmada de deputados e outras cinco cadeiras no Senado por dois mandatos consecutivos.

Realmente Santos escreveu seu nome como o presidente que fez a paz. Enquanto isso, o país está de mal a pior. A criminalidade explodiu, os índices de violência aumentaram muito e homicídios banalizaram-se.

Em 2014 estimava-se 44 mil He de plantação de coca, atualmente são 188 mil He, porque a negociação de paz foi permissiva com o aumento das áreas de plantio de coca e continua sendo. As guerrilhas e as BACRIM compram a folha de coca plantado pelo "campesino" (trabalhador do campo) e fazem o refino em seus  laboratórios. Os corredores de passagem da pasta base são controlados subornando autoridades ou chantageando. A tarefa de tirar a droga da Colombia e transportar para o mercado consumidor dos EUA é do Cartel de Sinaloa; Família do Norte e PCC disputam as rotas do Solimões com entrada por Tabatinga e a Rota do Rio Negro, com passagem por São Gabriel da Cachoeira. É uma simbiose. Drogas por Armas, Drogas por Dinheiro.

Hoje, com a "ordem" não escrita de se evitar qualquer confronto com as guerrilhas e “proteger” a todo custo o Acordo de Paz ( Prêmio Nobel do Presidente), há uma explosão da criminalidade na Colombia. O número de homicídios está descontrolado com a certeza da não reação das FFAA e policiais.

Os chefes militares da gestão de Juan Manuel Santos preferiram enfatizar a postura de que FFAA são carreira de Estado e procuram ficar fora de política. Assim sendo, se omitiram em relação a essa negociação política com a guerrilha. De uma forma bizarra, enquanto a maioria dos guerrilheiros está sendo solta devido à anistia, encontramos cerca de 12 mil militares e policiais presos por questão de “falso positivo, corrupção e outras coisas; imagine a confusão que isso causa.  A anistia foi apenas para os narcoterroristas que sequestraram, assassinaram e explodiram bombas.

 Entender o caótico cenário da Segurança Pública colombiano não é simples. O país está imerso em uma “sopa de letrinhas” de facções fortemente armadas e financiadas pela cocaína: BACRIM, FARC, EPL, ELN, Urabeños (ou Clan del Golfo), Los Peluchos. Atualmente é difícil caracterizar grupo paramilitar na Colômbia. Tem Guerrilha, Banda que se diz guerrilha (Como é o caso do EPL, que atua na mesma área do ELN), mas é tudo financiado pela cocaína.

Com o estímulo à impunidade que foi promovido por Santos, não é difícil deduzir que os narcotraficantes que passaram décadas ganhando dinheiro controlando a produção e as rotas de narcotráfico, não quiseram se submeter a virarem motoristas de táxi para sobreviver (como havia sido com o M19). Assim, contrariando a propaganda oficial patrocinada pelo governo santista, há muita dissidência nas fileiras das guerrilhas que não se submeteram ao acordo e prosseguem com ações violentas. Sem contar que alguns não são tão dissidentes assim; pelo contrário, várias fontes registram que continuam veladamente recebendo ordens do Secretariado das FARC (que agora virou partido político mantendo a mesma abreviatura).

As evidências do descontentamento da população com o acordo se manifestam através da preferência por Duque, o candidato apoiado por Uribe que tem sido um feroz crítico à forma como Santos comprou seu Nobel da Paz.

Conclui-se que o acordo de paz com as FARC é um tremendo embuste para alimentar o gigantesco ego de Juan Manuel Santos. Mas o milionário Presidente Santos colombiano não parece estar preocupado com nada disso, só consegue enxergar o seu prêmio Nobel e vai ter bastante tempo para comemorar enquanto usufrui de sua fortuna.

 

 

Nota DefesaNet

O relatório do US Drug Enforcement Agency, divulgado em Agosto 2017, traz dados sobre  a expansão da da área plantada na Colômbia.

DEA Intelligence Brief – DIB-014-17 Colombian Cocaine Production Expansion by nelson during on Scribd

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