Maduro aumenta repressão às vésperas de protesto

Marina Gonçalves

Quanto mais se aproxima a “Tomada de Caracas” — grande manifestação oposicionista marcada para amanhã — mais aumenta a pressão do governo venezuelano e dos militantes chavistas. Durante a madrugada de ontem, o jornal “El Nacional” teve sua fachada vandalizada, com excrementos e ataques com coquetel molotov.

E outros líderes opositores acabaram detidos: Lester Toledo, dirigente nacional do Vontade Popular, e Carlos Melo, do partido Avançada Progressista. O prefeito de Mario Briceño, Nelson Guárabe, denunciou ter sido agredido.

Por volta das 2h de ontem, homens não identificados chegaram ao “El Nacional” num veículo sem placa e atacaram o jornal, acusado por eles de trair o país, deixando um panfleto com o título: “A marcha de 1S (1º de Setembro) é o começo do fim?”.

O texto ainda chama o dono do diário, Miguel Henrique Otero, de conspirador. A ameaça foi assinada pelo grupo Jovem Povo em Rebelião, o mesmo que atacou o jornal em junho. Há uma semana, o “Correo del Caroní” havia sido atacado a tiros.

Em outro episódio, uma equipe da rede al-Jazeera foi impedida de entrar no país para cobrir as manifestações, que pedem o avanço de um referendo contra o governo de Nicolás Maduro.

Para Elías Pino Iturrieta, diretor-adjunto do “El Nacional”, o ataque pode ser uma mensagem à sociedade, numa tentativa de atemorizar a população: — É o terceiro atentado em seis meses. Também fomos processados por difamação por uma matéria sobre (o número dois do chavismo) Diosdado Cabello e temos dificuldades em adquirir papel, controlado pelo governo. Além disso, os membros da junta diretora estão proibidos de deixar o país.

É um pacote de repressão. Já denunciamos os ataques à polícia, sem nenhum resultado — afirmou ao GLOBO. — Mas continuaremos trabalhando com normalidade, não mudaremos em nada nossa linha editorial nem nossa conduta frente à opinião pública.

No bilhete deixado no jornal, acusam seu diretor Miguel Henrique Otero, de “abertamente expor sua posição de conspirador contra o povo e a revolução bolivariana”. “Que fique claro que somos um povo livre, soberano e patriota. Não deixaremos que apátridas como você voltem a governar.”

Para Otero, que vive em Miami, o ataque evidencia a “falta de argumentos dos governistas”. Ontem, a Conferência dos Bispos da Venezuela pediu que a marcha seja respeitada e aconteça em paz. Maduro tentou acalmar os ânimos no Twitter: “A direita quer marchar todos os dias e pode fazê-lo, mas em paz e respeitando as leis”.

Oposição fala em perseguição política

A oposição, no entanto, reclama que vários líderes foram detidos nos últimos dias e acusa o governo de perseguição.

Além de Daniel Ceballos, que estava em prisão domiciliar e foi transferido a uma penitenciária no sábado, e do opositor Yon Goicochea, preso na segunda-feira acusado de portar detonadores para explosivos, Carlos Melo e Lester Toledo também foram levados ontem pela polícia e permanecem “reclusos e incomunicáveis” na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência, em Caracas. — Vê-se um aumento seletivo no isolamento de dirigentes da MUD (Mesa de Unidade Democrática), disse ontem o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, que ainda denunciou uma tentativa de incêndio na sede do Ação Democrática em Codejes.

Cabello confirmou indiretamente a repressão: — Preferimos um milhão de vezes colocar terroristas na cadeia a derramar uma gota de sangue. Enquanto isso, delegados da MUD viajaram aos EUA para pedir à ONU e à Organização dos Estados Americanos (OEA) que acompanhem a marcha.

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