Eleições na Colômbia põem em dúvida acordo de paz com Farcs

SARA SCHAEFER MUÑOZ

O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe e o partido fundado por ele conseguiram um forte desempenho na eleição parlamentar de domingo, resultado que dá ao político linha-dura uma plataforma mais ampla para se opor ao acordo de paz que o presidente Juan Manuel Santos está negociando com os rebeldes marxistas.

O partido de Uribe, porém, não conseguiu os assentos necessários para desmantelar a ampla coalizão de Santos, o que possibilita que a base de apoio do presidente leve adiante a legislação relacionada ao provável acordo com o antigo grupo rebelde do país, as Forças Revolucionárias da Colômbia, ou Farcs. O acordo tem sido a bandeira da gestão de Santos. Para a coalisão do presidente, o resultado de domingo também é um bom prenúncio para sua tentativa de se reeleger para um segundo mandato, em maio.

Os resultados das eleições foram "bons, mas não ótimos, para Uribe e um revés, mas não um desastre, para Santos", diz Adam Isacson, associado sênior para segurança política no Washington Office on Latin America, um centro de estudos sobre Justiça e Direitos Humanos de Washington.

O partido de Uribe, o Centro Democrático, conquistou 20 assentos no Senado, ou 14,4% dos votos, contra 21 assentos, ou 15,4% dos votos, do Partido da Unidade Nacional, de Santos, cuja ampla coligação inclui membros do Partido Liberal, Partido Conservador e do Partido da Mudança Radical. Na Câmara, o Centro Democrático conquistou 36 cadeiras, 15,8% do total. Estavam em jogo 102 vagas no Senado e 168 na Câmara.

Os resultados "são um sinal muito importante de que a maioria dos colombianos quer paz", disse Santos em um comício transmitido pela TV.

Mas analistas dizem que Uribe teria agora um megafone mais potente para fazer oposição às negociações de paz, o que poderia influenciar a opinião pública. Alguns dizem que o partido de Uribe poderia também conquistar o apoio de alguns membros conservadores da coalizão de Santos.

Depois de atuar como presidente da Colômbia entre 2002 e 2010 e liderar a ofensiva militar que fez a poderosa Farc recuar, Uribe formou um novo partido, o Centro Democrático. Ele concorreu ao Senado apresentando uma plataforma de oposição às negociações com os rebeldes, defendendo, por sua vez, soluções militares e judiciais.

As eleições de domingo foram a mais recente batalha de uma longa disputa entre o ex-presidente e o atual, em grande parte sobre as abordagens altamente divergentes de ambos para encerrar uma guerra contra o grupo guerrilheiro que já dura meio século.

A vitória parcial de Uribe nas eleições de domingo mostra que, após anos de derramamento de sangue, muitos colombianos não estão prontos para aceitar algumas medidas que têm sido propostas por Santos, como o perdão de comandantes rebeldes.

"Eles precisam pagar pelo que fizeram", diz Andrés Guzmán, um engenheiro de 29 anos que votou em Uribe. "Eu gostaria de ver um processo de paz, mas não com imunidade."

Guzmán disse que não votará em Santos nas próximas eleições presidenciais porque ele não é forte o bastante.

"Santos cometeu muitos erros", diz Guzman. "Ele não toma decisões nem enfrenta ninguém."

Por lei, Uribe não pode concorrer a um terceiro mandato. Mas ele está apoiando seu ex-ministro da Fazenda, Óscar Iván Zuluaga, para que ele concorra com Santos nas eleições presidenciais de maio.

Uribe tem sido implacável em seus ataques a Santos, por meio de mensagens no Twitter, onde tem 2,3 milhões de seguidores. Ele acusa o atual presidente de trair as políticas linha-dura da sua administração. O processo de paz, dizia em um tweet, "converteu em atores políticos terroristas que estavam em processo de serem derrotados e isolados".

Assistentes próximos ao presidente têm dito que os ataques de Uribe pelo Twitter visivelmente tem perturbado Santos, levando-o a chamar o inimigo político de "um bandido de rua" em 2012.

Algumas pessoas dizem que consideram as constantes críticas de Uribe a Santos desconcertantes e isso acabou levando à perda de votos.

"Eu não concordo com a retórica de Uribe, ele está atacando o presidente atual em vez de apoiá-lo", diz Angela Baena, de 42 anos, diretora de uma empresa de pesquisa de mercado. Ela diz que esse foi o principal motivo pelo qual não votou em Uribe. "E nós passamos tantos anos em conflito, agora é hora de vivermos em paz."

Outros observadores criticaram candidatos cujos familiares foram condenados por crimes relacionados a grupos paramilitares — milícias de direita ilegais conhecidas por violações a direitos humanos — e corrupção. De acordo com León Valencia, diretor da organização não-governamental Fundação da Paz e Reconciliação, que monitora esses grupos, ao menos 20 candidatos com ligação com esses grupos paramilitares conquistaram vagas no Congresso.

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